De acordo com os especialistas na área, as chuvas de verão tenderão a aumentar em quantidade e intensidade com o aquecimento global. E pelo que tem sido mostrado nos noticiários (alagamento para tudo quanto é lado), está mais do que evidente que a infraestrutura das cidades (grandes ou pequenas, brasileiras e estrangeiras), não está preparada para essa nova realidade. Ou seja, a situação só tende a piorar.
É claro que nos centros urbanos existem aquelas regiões que tradicionalmente alagam na época das chuvas. Só que algumas dessas regiões, no passado, não costumavam alagar. Mas agora com essas novas precipitações, bem mais intensas e violentas, viram lagos ou corredeiras em coisa de minutos, capazes da arrastar veículos grandes por dezenas, ou mesmo, centenas de metros.
Um pouco menos trágico quanto ter a sua casa invadida pelas águas, que não costumam poupar quase nada, é ver o seu veículo (fruto de muito esforço ou, muitas vezes, sua ferramenta de trabalho) submergir dentro de água barrenta.
Uma visão desesperadora – a não ser que você pertença à minoria dos “desapegados”, que veem o veículo como um simples objeto de consumo, principalmente, se foi contratado um bom seguro, cuja apólice cobre esse tipo de sinistro. Nesses casos, as seguradoras preferem indenizar o segurado com o valor contratado, recolher o veículo sinistrado e vendê-lo posteriormente em um leilão. Dá menos desgaste na relação com o cliente.
Isso quer dizer que sempre que um veículo é alagado ele deve ser descartado? Ou seja, nunca pode ser recuperado? Nunca é uma palavra muito forte. A decisão das seguradoras de dar perda total no veículo, muitas vezes, é tomada baseando-se em fatores financeiros e/ou de relacionamento. Mas também existe o critério técnico: uma estatística que mede a quantidade de retrabalhos e reclamações que ocorrem sobre os veículos recuperados.
MAS A RESPOSTA PARA A PERGUNTA: É POSSÍVEL
RECUPERAR UM VEÍCULO QUE FOI VÍTIMA DE ALAGAMENTO? É, SIM.
Mas cada caso deve ser avaliado particularmente. É claro que se um veículo foi arrastado por uma enxurrada forte, bateu e além de alagado ficou todo amassado… Bem, a conversa muda. Mas na maioria dos casos, a resposta é sim. A recuperação é tecnicamente possível. O fator limitador é o custo.
VALE A PENA CONSERTAR?
Para quem não tem seguro nem dinheiro para comprar outro veículo, não há muita escolha: o conserto terá que ser feito. Porém, dentro dos limites do bolso do proprietário. Isso não quer dizer que a “gambiarra” está liberada! Mas, sim, trocar aquilo que realmente é necessário, buscar os melhores preços e otimizar, o quanto for possível, a mão de obra (própria ou de terceiros). Não há margem para desperdício.
E no caso daqueles como o “Guerreiro das Oficinas”, que trabalham com bens de terceiros e que, por uma ironia do destino, não fez seguro dos veículos que ficam depositados na oficina, ou sua apólice não cobre esse tipo de sinistro, a situação é ainda mais delicada. É preciso balancear muito bem o que precisa ser gasto, pois ele precisa devolver aos clientes os bens (sempre no plural) nas mesmas condições em que ele se encontravam, sem falir. E pode ter certeza: pagar na justiça, além ficar muito mais caro, mancha irremediavelmente a reputação.
COMO AGIR NUM CASO DESSES?
Antes de começar a desmontar, é preciso analisar caso a caso. E muito bem. Cada situação exige providências próprias. Algumas dicas:
1) Um veículo que se encontrava desligado e estacionado pode ser recuperado. Mas isso não quer dizer que não ocorreram danos. Principalmente nos sistemas eletroeletrônicos. Dá trabalho, mas pode valer muito a pena, para o cliente e para o mecânico, se o processo for bem gerenciado. No entanto, é preciso tomar alguns cuidados para não piorar a situação:
– Em primeiro lugar: desligue a bateria. Centrais eletrônicas “caras” não entram em curto circuito se não estiverem energizadas. Um simples conector encharcado pode danificar uma central. Ligar o contato? Nem pensar! Energia elétrica nos sistemas eletroeletrônicos só depois que tudo estiver bem seco.
– A tapeçaria está molhada a suja. Mas pode ser recuperada: deve ser totalmente removida, lavada com produtos apropriados (não agressivos, mas bactericidas) e seca. Existem profissionais e equipamentos que fazem muito bem esse trabalho. Nessa hora, o sol é um grande aliado, pois os seus raios ultravioleta são fatais para fungos e bactérias. Os bancos devem ser desmontados e o enchimento lavado e seco. Fazer apenas uma secagem simples pode gerar mal cheiro insuportável. Bancos elétricos? Desmonte e seque os mecanismos.
– Interior das portas (máquinas de vidros e fechaduras): Limpe e lubrifique. Caso contrário, vão enferrujar. Essas partes não foram feitas para trabalhar molhadas.
– Painel de instrumentos: Atualmente, a maioria é dotada de placas e módulos eletrônicos. Logo, é preciso remover tudo, limpar e secar muito bem. Não pode haver preguiça. E quando se diz tudo, é tudo mesmo. Em muitos modelos, uma simples chave de luzes tem um uma placa microprocessada no seu interior. Se ele estiver molhada… Já sabe o que vai acontecer na hora que a mesma for energizada. Na dúvida, envie os instrumentos a um especialista para secar e testar.
– Ar-condicionado: O mesmo vale para o sistema de climatização. A limpeza é fundamental.
– Lataria: Limpe muito bem a carroçaria por dentro e por fora. Higiene é essencial, até mesmo para a segurança do mecânico.
– Motor: Há uma enorme probabilidade de haver água no interior do motor. Jamais tente dar partida. O risco de calço hidráulico é enorme. Inspecione o filtro de ar. Se estiver molhado, as chances de haver entrado água dentro do motor são grandes. Se o filtro estiver seco, faça as verificações seguintes por segurança.
– Velas de ignição (bicos injetores no caso de motores Diesel): Remova e os inspecione. Se houver água nas câmaras de combustão, drene e seque tudo. Drene também preventivamente o óleo do motor e remova o filtro. Se houver água misturada, remova o cárter e inspecione a bomba de óleo. Pode haver água no seu interior. Antes de tentar girar o motor, tenha certeza de que não existe água nas bronzinas no lugar do lubrificante. Limpe e lubrifique tudo. Não esqueça de olhar as partes altas do motor (comando de válvulas, variador de fase, turbo, supercharger etc.). Qualquer tentativa de movimentação do conjunto mecânico após a limpeza deve ser feita sem as velas de ignição (sem carga sobre o virabrequim).
– Tanque de combustível: Examine para ter certeza de que não houve contaminação. Drene preventivamente é uma boa alternativa. Cuidado com o reservatório do cânister: pode ter entrado água nele.
– Caixa de marchas e diferencial: Verifique se não houve entrada de água pelo respiro ou vareta de nível: faça uma verificação preventiva. Na dúvida, trocar os fluidos.
– Reservatório do fluido de freio e óleo de direção hidráulica: cheque se não houve contaminação: substitua os fluidos em caso de dúvida.
– Conectores e componentes elétricos e/ou eletroeletrônicos: todos devem ser verificados, secos e limpos. Sem exceção.
2) Um veículo que se encontrava ligado e trafegando: as dicas são as mesmas, mas as chances do motor ter aspirado água e ter ocorrido calço hidráulico são bem maiores. Redobre os cuidados com o motor e os sistemas eletroeletrônicos.
E que dicas o “Guerreiro das Oficinas” pode dar ao seu cliente, quando o mesmo estiver diante de uma situação de risco?
– Não arrisque passar em locais alagados. Em alguns modelos, a admissão de ar do motor é baixa, o que facilita a aspiração de água para dentro do mesmo. Se a altura da lamina d’água for baixa (menos da metade da roda), oriente passar em baixa velocidade, com marcha reduzida (alta rotação) para evitar molhar o sistema de ignição e entrar água pelo escapamento.
– Oriente desligar o motor e a ignição para evitar a aspiração de água diante de um local que alagou repentinamente (congestionamento).
– Quando o alagamento é inevitável e a remoção do veículo é impossível (ele vai ficar submerso), antes de abandoná-lo, oriente fechar todos os vidros e desligar a bateria (se possível). Isso pode ajudar a poupar o sistema eletroeletrônico.
Por Fernando Landulfo
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