Quais são os desafios de manutenção da versão off-road da picape monobloco da Ford?

texto Vitor Lima fotos Diego Cesilio
A Ford Maverick Tremor chega ao mercado brasileiro como a variante mais preparada para o uso fora de estrada dentro da linha. Embora compartilhe a base estrutural da Maverick convencional, especialmente da versão Black, a Tremor adiciona uma série de componentes específicos que impactam diretamente a rotina do mecânico. Para entender o que muda e como essas alterações se refletem no dia a dia da oficina, convidamos Cleyton André, proprietário da oficina Elevance Automotive, localizada em São Bernardo/SP, para analisar as condições de manutenção da picape.
Capô Aberto
Ao abrir o capô, o primeiro ponto que chama atenção na Maverick Tremor é a organização (1). A picape utiliza o motor 2.0 EcoBoost, já conhecido na linha Ford, mas com uma configuração atualizada. O conjunto, apesar de tecnológico, foi projetado de modo a facilitar o acesso a diversos componentes. Cleyton destaca que “é um EcoBoost, mas bem melhorado. A construção do conjunto é muito bacana e surpreende pela simplicidade de acesso”.

O mecânico chama atenção para o fato de que a injeção direta é de intervenção relativamente fácil, já que a remoção da caixa do filtro de ar libera acesso direto aos injetores e à admissão, sem necessidade de retirar o coletor, diferente do que ocorre em motores como o EA888 da Volkswagen. Manutenções básicas, como verificação de fluido de freio, arrefecimento e troca de óleo, também podem ser realizadas sem dificuldades, seguindo o padrão dos veículos modernos.

A Maverick Tremor utiliza uma bateria de 70 Ah e 760 CCA, necessária para suprir a demanda elétrica (2), especialmente considerando sistemas como o start-stop. Por ser um componente mais sensível e com maior envolvimento eletrônico, Cleyton destaca a importância da configuração adequada na hora da substituição. “Em muitos carros modernos é obrigatório apresentar a nova bateria ao módulo. Como a Tremor é muito nova, não podemos descartar essa necessidade”.

A eletrônica embarcada não só exige peças adequadas, mas também equipamentos de diagnóstico compatíveis para evitar falhas no gerenciamento da carga. Um dos pontos mais interessantes da Maverick Tremor é a ausência do servo freio tradicional. O sistema opera de forma totalmente eletrônica, comandado por um módulo ABS ampliado e um atuador eletro-hidráulico que substitui o auxílio a vácuo. Essa configuração reflete a tendência dos veículos modernos em adotar soluções eletrônicas mais precisas e integradas com os demais sistemas.

O uso do fluido DOT 4 LV é obrigatório, já que sua viscosidade reduzida garante o funcionamento correto da unidade eletro-hidráulica. “O DOT 4 LV tem pelo menos metade da viscosidade do DOT 4 comum. A fluidez é maior e necessária para manter a eficiência do sistema eletrônico de frenagem”, explica o profissional. A troca, recomendada entre 20 mil quilômetros ou um ano, deve sempre considerar a condição do fluido, já que se trata de um componente higroscópico.
Undercar
A suspensão dianteira da Maverick Tremor utiliza o sistema McPherson, mas com elementos reforçados para o uso em off-road. A bandeja é fabricada em liga de alumínio (3), o que reduz o peso e aumenta a resistência. Porém, o pivô não é substituível individualmente (4), se houver folga, é necessário trocar toda a bandeja. “A suspensão é robusta, mas não foge ao que estamos acostumados. O ponto crítico é o pivô, pois, abriu folga, troca o conjunto todo”, pontua Cleyton. Além disso, os amortecedores são exclusivos da versão Tremor, com curso maior e calibragem específica para trilhas, o que também contribui para que a picape seja mais alta que a versão Black em mais de 20 mm.

Debaixo do veículo, a Tremor segue a proposta off-road e apresenta um protetor de alta resistência, além de painéis inferiores que fecham boa parte do conjunto mecânico (5). Isso traz maior segurança aos componentes, mas exige a remoção das proteções para serviços como troca de óleo. Cleyton resume bem o conjunto ao afirmar que “é um baita protetor de cárter. Não é daqueles simples, é muito robusto mesmo”.

Diferentemente da Maverick Black, que utiliza um sistema AWD, a Tremor emprega um sistema 4WD com acionamento sob demanda (6). Isso significa que a picape opera normalmente em 4×2 e só aciona o eixo traseiro quando o motorista solicita. Cleyton explica a diferença. “O AWD trabalha integralmente no 4×4, sempre ativo. Já o 4WD dá liberdade ao condutor de rodar no 4×2 e ativa a tração traseira quando quiser. Isso preserva o diferencial”. Essa configuração exige uma caixa de transferência mais robusta e um cardan dimensionado para situações de maior esforço (7), mas mantém o conjunto relativamente simples para manutenção.

A parte traseira utiliza um sistema de suspensão independente (8), com múltiplos braços e amortecedores exclusivos da linha Tremor (9). Apesar da complexidade da arquitetura, o acesso aos amortecedores é bastante simples, já que o coxim superior pode ser alcançado pela lateral da roda (10). “Os amortecedores traseiros são fáceis de substituir. Já os braços da suspensão têm uma construção mais complexa, mas nada fora do padrão”, informa o mecânico.

Por priorizar o desempenho off-road e um curso de suspensão maior, a Tremor perde em capacidade de carga em comparação com a versão Black. Seu entre-eixos é 2 mm menor e as molas e amortecedores são calibrados para absorção de impactos, não para sustentação de peso. “A Tremor foi feita para trilha, não para carregar peso como a Black. É um compromisso do projeto”, comenta o profissional.
A picape traz freio de estacionamento eletrônico (11), facilitando o uso diário, além de um escape reforçado para impactos em trilhas. O estepe é temporário (12), limitado a 80 km/h, e destinado apenas a situações emergenciais, sendo de fácil acesso para o condutor.

Combinando eletrônica avançada, soluções específicas para trilhas e um projeto que facilita o acesso a muitos componentes, a Ford Maverick Tremor se mostra uma picape equilibrada para o mecânico. Algumas áreas exigem atenção especial, como a suspensão dianteira com bandeja de alumínio e pivô integrado, o sistema de freio totalmente eletrônico e a necessidade de equipamentos adequados para lidar com a bateria e demais sistemas de gerenciamento.
No entanto, grande parte das manutenções rotineiras permanece simplificada, especialmente no que diz respeito à injeção direta e aos amortecedores traseiros. Cleyton resume a manutenção da Maverick Tremor, que tem preço a partir de R$ 239.900. “É um carro robusto, mas muito tecnológico. Algumas áreas vão exigir mais trabalho, como a suspensão e o quadro dianteiro. Por outro lado, a injeção direta e manutenções básicas são muito simples. No geral, é um carro bem tranquilo de trabalhar”.
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RAIO-X: Ford Maverick Tremor Publicado primeiro em
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