Confira o comparativo de manutenção entre os concorrentes diretos em suas versões topo de linha

texto Vitor Lima fotos Diego Cesilio
Dois modelos que chamaram atenção em seus lançamentos foram o Renault Kardian, novo projeto, até então, por parte da montadora francesa e, lançado este ano, o Volkswagen Tera, que fez a introdução da marca alemã nesta categoria de veículos. Os dois modelos disputam diretamente entre si, além de terem o terceiro concorrente que é o Fiat Pulse, mas, neste comparativo, trouxemos as duas versões topo de linha dos concorrentes franceses e alemães.
O Kardian Première apresenta dimensões como 4.119 mm de comprimento, 1.747 mm de largura e 1.544 mm de altura, com entre-eixos de 2.604 mm e porta-malas de 410 L. Já o Tera High é um pouco mais comprido, com 4.151 mm, mais estreito em altura 1.504 mm e um pouco mais largo 1.777 mm, entre-eixos de 2.566 mm e porta-malas de 350 L. O Kardian, portanto, oferece ligeiramente mais espaço útil, especialmente no entre-eixos, enquanto o Tera exibe proporções um pouco mais “SUV esportivo”, com visual mais baixo e largo.

No quesito motorização, ambos optam por um motor 1.0 turbo de três cilindros, flex. O Kardian gera 125 cv a 5.000 rpm e torque de 22,4 kgfm a 2.900 rpm, atingindo 0-100 km/h em cerca de 10,4 segundos e velocidade máxima de 188 km/h. O Tera High, por sua vez, entrega uma potência de 116 cv (álcool) ou 109 cv (gasolina) com torque máximo entre 16,8 kgfm a 4.250 rpm, acelera de 0-100 km/h em cerca de 11,7 segundos e atinge até 184 km/h.

Nos acabamentos e equipamentos internos, o Kardian Première conta com ar-condicionado digital com modo automático e partida chave presencial, retrovisores elétricos, bancos rebatíveis 60/40, multimídia de 8 polegadas com espelhamento sem fio, painel digital de 7 polegadas, carregador por indução, seis airbags, assistências como frenagem automática (AEBS), alerta de ponto cego, controle de cruzeiro adaptativo (ACC), entre outros itens de segurança e conforto.

Já o Tera High traz também um pacote tecnológico vasto com botão de partida, assistências como ACC, frenagem autônoma de emergência (AEB), sistema Volkswagen Play Connect com tela de 10,1 polegadas e conectividade sem fio aos sistemas Android Auto e Apple Car Play, painel digital e rodas de liga diamantadas que adicionam sofisticação externa.

No design externo, o Kardian segue com a nova identidade visual da Renault, barras de teto usuais e linhas mais suaves. O Tera apresenta uma leitura estética mais agressiva, com faróis integrados à grade e porte pensando na aerodinâmica.

Ao analisar a manutenção do Renault Kardian e do Volkswagen Tera, percebe-se que ambos foram projetados para a nova geração de SUVs compactos, com forte presença de componentes eletrônicos e padrões de emissões mais rigorosos. No entanto, quando o assunto é manutenção, a abordagem de cada fabricante resulta em vantagens e desafios distintos para a oficina e, para demonstrar isso aos mecânicos, convidamos Cleyton André, proprietário da oficina Elevance Automotive, localizada em São Bernardo do Campo, SP, para analisar as condições de manutenção entre os dois modelos.
Capô Aberto
Logo ao abrir o cofre do Kardian, chama a atenção a disposição limpa e direta dos componentes de rotina. Reservatórios de óleo do motor, fluido de arrefecimento e fluido de freio são de fácil acesso, e o filtro de ar pode ser removido sem desmontes adicionais (1). O profissional observa. “A rotina de revisão aqui é mais ágil, você não precisa desmontar meio carro para trocar óleo ou filtro”.

No Tera, por outro lado, a Volkswagen optou por um cofre mais protegido por coberturas plásticas e dutos que, apesar de manterem melhor vedação térmica e acústica, exigem pequenos desmontes adicionais para chegar a itens de rotina, como o filtro de ar ou os injetores (2). “É um padrão da VW, pensado em durabilidade e vedação, mas na oficina a gente sente que gasta um pouco mais de tempo para chegar no que precisa”, acrescenta Cleyton.

Falando em injetores, o Kardian utiliza peças piezoelétricas que, ao serem substituídas, precisam ser codificadas via scanner para que o módulo do motor as reconheça corretamente. Isso torna a troca dependente de equipamento de diagnóstico atualizado, o que nem toda oficina possui. Em compensação, o acesso físico aos injetores é relativamente simples. O mecânico comenta: “Aqui a peça está na mão, não tem que desmontar meio cofre, mas sem o scanner adequado você não faz a adaptação, então a oficina precisa estar preparada”.
No Tera, os injetores são do tipo bobina e não exigem programação, mas ficam posicionados sob o coletor de admissão, sendo necessário remover o coletor ou deslocar peças adjacentes, uma operação que demanda mais tempo de mão de obra. “No Tera a gente não precisa do scanner para trocar, mas perde tempo desmontando o que está por cima”, completa o Cleyton.
A bomba de vácuo no Kardian é acionada mecanicamente e depende diretamente da qualidade do óleo do motor para lubrificação (3). O especialista reforça. “Se o cliente negligenciar a troca do óleo, essa bomba será uma das primeiras a sofrer”. Já no Tera, a bomba é elétrica, menos vulnerável à degradação do óleo, reduzindo um ponto crítico de falhas (4). “É um detalhe que muda muito o dia a dia na oficina. A gente não fica tão dependente do histórico de troca de óleo do cliente, o que é uma vantagem do Tera”, comenta o profissional.

Isso reflete também nos intervalos de manutenção. No Kardian, trocas de óleo regulares (5) a cada 10.000 km ou 12 meses são fundamentais para preservar não só o motor, mas o sistema de vácuo. Já no Tera, o mesmo intervalo é recomendado (6), porém a dependência da bomba pelo óleo é menor.

No que diz respeito ao sistema de sincronismo, o Kardian utiliza corrente de comando, que dispensa troca periódica se bem lubrificada e se não houver ruídos ou desgaste atípico. O tensionador hidráulico, no entanto, exige óleo limpo para manter pressão estável. “A corrente é uma vantagem no dia a dia, mas só se o cliente respeitar os intervalos de troca de óleo, porque o tensionador sofre quando o óleo está contaminado”, comenta Cleyton.
Já o Tera adota correia dentada, que demanda substituição preventiva de acordo com o manual, geralmente entre 100.000 e 120.000 km ou 5 anos, um serviço que envolve mais mão de obra e custo adicional, mas é obrigatório para evitar falhas catastróficas. “É um trabalho que a gente já conhece bem, mas precisa ser programado com o cliente para evitar surpresas”, acrescenta o mecânico.
UNDERCAR
Na parte inferior, ambos apresentam proteções plásticas, mas no Kardian o acesso ao bujão de dreno e ao filtro de óleo é mais direto, enquanto no Tera pode ser necessário retirar mais de uma tampa protetora. Essa diferença impacta nos tempos de troca de óleo e filtros.
O sistema de transmissão do Kardian é de dupla embreagem, que entrega boas respostas dinâmicas, mas exige fluido específico e manutenção preventiva cuidadosa para preservar o conjunto. “É uma transmissão moderna, mas é sensível. Se o cliente não respeitar troca de fluido ou rodar muito no trânsito pesado, a gente vai ver problemas mais cedo”, explica Cleyton.
O Tera utiliza uma transmissão automática com conversor de torque, já consolidada na linha VW, com maior disponibilidade de peças e familiaridade para as oficinas, além de intervalos de troca de fluido geralmente mais amplos, em torno de 60.000 km, dependendo das condições de uso. “Na prática, a gente já conhece bem esse câmbio, tem menos surpresas e peças fáceis de achar”, completa o mecânico.
Na suspensão dianteira, ambos utilizam McPherson, mas o Kardian oferece acesso mais simples às bandejas e pivôs (7), enquanto o Tera possui alguns componentes mais protegidos, o que pode aumentar levemente o tempo de serviço (8). No eixo traseiro, ambos utilizam suspensão de eixo de torção (9 e 10), de concepção simples, mas no Kardian a substituição dos amortecedores traseiros, dependendo da versão, exige a remoção de parte do acabamento interno do porta-malas.

Os freios nos dois modelos são modernos e de fácil manutenção, com discos dianteiros ventilados e, dependendo da versão, freios a tambor ou a disco na traseira. No Kardian, o acesso às pinças dianteiras é um pouco mais desobstruído, o que torna a troca de pastilhas mais ágil. “Na hora de fazer freio, o Kardian é um pouco mais rápido, nada que seja decisivo, mas no volume de serviço faz diferença”, pontua o profissional.
Para os serviços programados, as revisões de ambos costumam seguir ciclos de 10.000 km ou 12 meses, englobando troca de óleo, filtro de óleo, filtro de ar e verificação de fluidos e freios. No Kardian, a corrente de comando e a bomba de vácuo exigem atenção contínua à saúde do óleo, enquanto no Tera a troca periódica da correia dentada é um ponto fixo no cronograma. Para a transmissão, recomenda-se especial cuidado: no Kardian, o fluido da dupla embreagem deve ser verificado mais cedo, em torno de 40.000 km, enquanto no Tera o câmbio automático costuma ter intervalos maiores, conforme o manual.
Afinal, qual dos dois tem a manutenção mais favorável?
Para a oficina, o Kardian se mostra um pouco mais rápido nos serviços de rotina, mas exige maior investimento em scanners compatíveis para programação de injetores e cuidados constantes com a lubrificação. Já o Tera oferece manutenção mais previsível e procedimentos mais familiares aos mecânicos, embora requeira mais tempo para intervenções em alguns componentes por conta das proteções adicionais e da substituição periódica da
correia dentada.
“O que faz diferença na prática é o tipo de cliente. O Kardian exige disciplina com as trocas de óleo e oficina equipada com scanner atualizado. O Tera exige planejamento para a troca da correia dentada e um pouco mais de tempo em alguns desmontes. Cada um tem sua rotina de oficina bem definida”, conclui Cleyton André.
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Raio-X: Renault Kardian vs. Volkswagen Tera Publicado primeiro em
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