Obrigatoriedade do uso de luvas na oficina não é único fator para o mecânico se preocupar: saúde é a principal questão
Entre os itens de segurança no trabalho mais importantes dentro das oficinas mecânicas está a luva. Alguns mecânicos ainda dizem que “usar luva é frescura” e que trabalham melhor com as mãos nuas, mas a resposta correta para essa afirmação é: não, luvas não são frescura e elas existem para proteger você de ferimentos e doenças causadas pela natureza do trabalho.
A luva se encaixa na família dos EPIs, ou seja, trata-se de um equipamento de proteção individual. Tanto os EPIs quanto os EPCs (equipamentos de proteção coletivos) estão dentro da Lei n.º 6.514/77 da CLT e são regulamentados pela Norma Regulamentadora nº6 (NR6), que determina quais equipamentos são EPIs e EPCs. Dentro dos padrões impostos pela Norma Regulamentadora, é necessário que as luvas, seja qual for o modelo, tenham o Certificado de Aprovação do Ministério do Trabalho e mostrem de forma clara o fabricante, lote e o certificado.
A prática da profissão de mecânico automotivo exige o uso de EPIs e um dos mais importantes é justamente a luva. O não uso de algum EPI pode levar a penalidades sérias. No caso da oficina, se a empresa não disponibilizar os EPIs necessários para o serviço, corre o risco de ter o negócio interditado. Já se for o funcionário quem se recusar a usar os EPIs cedidos, pode receber advertência ou até mesmo demissão por justa causa.
É perceptível que a cultura quanto uso de luvas está mudando no setor. Mas também é necessário que o mecânico esteja conscientizado que a falta do EPI em questão pode prejudicar diretamente a sua saúde. O consultor técnico da Revista O Mecânico, Fernando Landulfo, comenta que “todo mundo sabe que a atividade de manutenção automotiva exige, além do conhecimento técnico, uma grande habilidade manual. Habilidade essa que o mecânico há muito tempo arrisca diariamente ao exercer a sua profissão. Afinal de contas, o trabalho em si e o ambiente da oficina são agressivos para as mãos pela presença de solventes, combustíveis e óleos”.
O QUE A FALTA DE LUVAS PODE OCASIONAR?
Livre-docente em Dermatologia da FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas), Paulo Ricardo Criado explica quais são os problemas acarretados pela resistência do profissional à luva. Segundo o acadêmico, manusear produtos derivados de combustíveis fósseis com as mãos sem proteção já é motivo para preocupação. “Qualquer produto com características de pH ácido ou alcalino, ação detergente ou abrasiva, no início causa um eczema (inflamação), e consequentemente irritação que gera vermelhidão, descamação e cortes dolorosos nas mãos e dedos, mas conforme as semanas ou meses se passam com a exposição a esses agentes o caso pode piorar muito”, destaca Criado.
Paulo ainda cita que na indústria automobilística são usados os chamados óleos de corte, materiais que são irritativos para a pele e podem também com tempo causar dermatites (eczemas) alérgicas nas mãos. Com a persistência da alergia e a reexposição ao produto, o eczema pode se alastrar na pele e aos poucos se tornar uma dermatite generalizada.
Além do uso de luvas, o especialista indica um cuidado redobrado para os mecânicos quando o assunto for higiene pessoal. São necessários banhos diários para retirar todos os resíduos do corpo, que às vezes são voláteis com o calor. Produtos usados no trabalho evaporam e se depositam na pele não coberta pela roupa como no rosto, pescoço, braços, área do decote da camisa etc.
Como todo mecânico sabe, a manutenção preventiva é menos custosa que a corretiva. Ao menor sinal de problema, consulte um dermatologista ou alergista para saber a que possa estar alérgico (se estiver) e em quais produtos esta substância no dia a dia pode ser encontrada.
ALTERNATIVAS
Quando se fala de problemas ocasionados pela falta de luvas, além das reações na pele, o mecânico vive em seu dia a dia o risco de acidentes como queimaduras, cortes, ralados e prensagens. E dependendo da gravidade, pode até ocorrer perda parcial ou total da capacidade sensitiva ou motora.
Mesmo com tantos pontos “pró-lu-va”, há muito tempo o item é motivo de escárnio. “Alguns profissionais alegam que uso de luvas é perigoso porque quando se trabalha com motores em movimento pode acontecer da luva prender numa correia ou algo até pior”, comenta Landulfo. Mas o professor grifa: apesar de ser uma situação que acontece no dia a dia do mecânico, mexer em motores em movimento é algo severamente contraindicado por especialistas em segurança do trabalho.
O antigo receio do uso da luva também se baseava na própria falta de tecnologia do tecido. As luvas indicadas para os mecânicos eram grossas, porque protegiam sobretudo contra calor. O grande problema era que, por um lado, a luva trazia segurança, mas tirava a sensibilidade ao toque do profissional. Para muitos, esse “tato” é indispensável na hora de realizar um serviço.
Hoje, existem modelos mais finos e com tecnologias avançadas que tentam preservar justamente o tato do mecânico na hora da manutenção, sem deixar de lado a segurança. Um exemplo de produtos assim são as luvas de nylon, feitas especialmente para evitar raspagens na pele. Há também no mercado luvas com fios de grafeno, material mais fino que um fio de cabelo, muito leve e resistente, trazendo assim a tão requisitada sensibilidade às mãos dos mecânicos.
Há também as chamadas de “luvas químicas”, cremes para as mãos que protegem contra derivados de petróleo, colas, tintas, vernizes, bases, cimentos, detergentes, solventes etc. Além da proteção, uma vantagem desse material é a facilidade para tirar os resíduos da mão após o final da manutenção, pois, é só lavar com água e sabão que óleos e graxas saem, sem a necessidade do uso de buchas abrasivas às mãos.
Lembre-se: proteger suas mãos significa cuidar de sua mais valiosa ferramenta de trabalho.
texto: Raycia Lima
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