Conheça o funcionamento e os componentes da transmissão continuamente variável, utilizada em vários veículos leves comercializados no Brasil
por Edison Ragassi e Fernando Lalli
fotos Fernando Lalli
A sigla CVT significa Continuously Variable Transmission, ou transmissão continuamente variável. Em 2003, quando a Honda lançou a primeira geração do monovolume Fit, movido a gasolina, este tipo de câmbio ganhou notoriedade no país.
Mas a origem do sistema data do século XV. Para ser mais exato, de 1490, quando o inventor Leonardo da Vinci desenhou o conceito de um câmbio CVT. Na época ele estudava uma maneira de aprimorar os sistemas de transporte movidos por animais.
A primeira patente do sistema foi registrada no século XIX, em 1886. Porém, foi efetivamente implantada em um veículo de passeio no ano de 1958. A empresa holandesa DAF, conhecida no Brasil como fabricante de caminhões, desenvolveu um veículo de passeio, o DAF 600, que utilizava uma transmissão movimentada por correias e polias, posicionada na traseira do carro.
Depois disso, chegou a pequenos veículos, como ciclo motores, jet skis, karts e carros de golfe. A Mobylette Caloi, montada no Brasil a partir de 1975, tinha a transmissão CVT.
Nesta reportagem, o instrutor técnico do Centro de Treinamento Automotivo da Robert Bosch do Brasil, Paulo Stevanato, explica qual é o conceito, como funciona e ainda dá dicas para realizar a manutenção correta em uma transmissão continuamente variável.
Stevanato explica que, em sua essência, a transmissão continuamente variável não possui escalonamento de marchas à frente (primeira, segunda, terceira etc.). “As relações e respectivas trocas são infinitas, já que ela varia constantemente”. Quando um câmbio CVT possui mudanças manuais por borboletas atrás do volante, por exemplo, essas marchas são, na verdade, relações pré-programadas entre as polias que simulam marchas fixas.
O conversor de torque vai acoplado à entrada da caixa, onde estão colocados dois conjuntos de embreagens (1), eles são responsáveis pelas marchas à frente e marcha a ré.
Entre os dois pacotes de embreagens, está um cubo com planetárias satélites (2), responsáveis por fazer a inversão da rotação. Quando o conjunto de embreagens acopla, o sentido da entrada da rotação é o mesmo e o veículo movimenta-se para frente. Ao deslocar a alavanca na posição R (Ré), através do sistema de gerenciamento eletrônico, que atua em válvulas de pressão (3), ele desacopla um conjunto de embreagens e acopla o outro, o que trava o conjunto de planetárias satélites e inverte o sentido de entrada da rotação para o câmbio.
Na parte de trás, o impulsor de rotação, também conhecido como roda fônica (4), aciona um sensor de efeito hall. Ele informa o módulo de gerenciamento a rotação de entrada da transmissão. Também compara com a rotação do motor para fazer a atuação do conversor de torque ou do lock up, uma espécie de transmissão com rotação direta.
O lock up proporciona um tipo de acoplamento mecânico no interior do conversor de torque, eliminando o escorregamento. Com isso, a eficiência da transmissão é aumentada. Mas só pode ser utilizado em marchas de velocidades elevadas. O seu acionamento por mau funcionamento do sistema em marcha lenta, por exemplo, pode apagar o motor.
O movimento das polias é feito através de uma correia de transmissão me tálica (5). “Há modelos que não possuem a correia, mas são chamados de CVT, como os câmbios dos veículos elétricos”, lembra Paulo Stevanato.
O instrutor explica que, quando o veículo está parado, ao iniciar o movimento, no lado da entrada de força, na polia motriz, o diâmetro é pequeno porque a polia está aberta (6). Na saída de força, a polia movida está fechada com diâmetro maior (7). Isso proporciona alta rotação na entrada e baixa rotação na saída.
Devido a este fator, mesmo com uma força pequena de entrada, há uma grande força na saída por causa da diferença de diâmetro. Conforme a velocidade aumenta, o sistema modula as válvulas e começa a fechar a polia de entrada (motriz) para que esta aumente seu diâmetro – e para que a polia de saída (movida) se abra e diminua seu diâmetro. Em determinadas situações, elas estão com o mesmo diâmetro, onde a rotação de entrada e saída são iguais. Neste caso, com redução 1:1 ou sem redução, também é conhecido como prize direta.
Quando a situação se inverte, ou seja, a polia motriz fecha e a movida abre, isso causa o efeito overdrive, ou seja, a rotação de saída será maior que a de entrada para ganhar velocidade.
Esta modulação e variação das polias são feitas em função da velocidade do veículo, da rotação, do torque e potência entregue pelo motor.
Não podemos esquecer do fator carga aplicada ao motor, detectada pela posição da borboleta aceleradora. “Para que o motor tenha torque suficiente para arrastar o veículo, a diferença de rotação não pode variar muito. Esses cálculos são dimensionados de acordo com o projeto do veículo e a motorização a ser utilizada”, comenta o instrutor técnico da Bosch.
O controle da transmissão está colocado na parte de baixo do câmbio. Ao deslocar a alavanca da posição P (Parking) para a D (Drive), um trilho acionado mecanicamente (8) se move para enviar sinais para a unidade de gerenciamento da transmissão – que neste caso é externa, pois não está acoplada a transmissão.
A unidade de gerenciamento pilota o conjunto de válvulas hidráulicas, o qual faz a seleção das marchas à frente ou à ré, e variação do diâmetro das polias de transmissão, para que ocorra a simulação das marchas ou o aumento e diminuição da velocidade, de acordo com a seleção: D (Drive), R (Ré), N (Neutro) ou L (Reduzida). A reduzida, quando há, é uma opção para que o câmbio proporcione mais força do que velocidade. É recomendada em subidas muito íngremes, onde não pode elevar demais a rotação da transmissão ou nas descidas de serra, por exemplo, para evitar superaquecimento do sistema de freios e, consequentemente, perda de eficiência (fading).
Como em toda transmissão automática, possui um sistema de travamento, o Parking (9), que está na polia de saída, ligada ao diferencial. O dispositivo tem uma lingueta, acionada por um cabo de aço, que trava e bloqueia a transmissão do veículo. Ao deslocar a alavanca da posição P, o câmbio é liberado. Atrás da transmissão há uma bomba de óleo (10) para a lubrificação de todo o conjunto e também das válvulas. “Utilize sempre óleo específico para transmissão CVT. Este óleo, além de lubrificar o sistema, não forma espuma e possui aditivo especial de atrito. Esse aditivo não é um redutor, isso porque a correia e a polia são metálicas e precisam de atrito adequado para a transmissão de força. O óleo tem que ser genuíno da montadora ou com as aprovações do fabricante da transmissão ou do veículo”, alerta Paulo Stevanato.
Os efeitos do lubrificante correto são essenciais para o bom funcionamento. “O óleo inadequado reduz o atrito, as polias patinam, a temperatura aumenta. Isso irá danificar as polias e a correia. O veículo perde força, ou seja, o mesmo sintoma da patinação de embreagem em um câmbio manual, porém a patinação ocorre por causa do atrito de metal com metal, e não do metal com os componentes de fricção.
A manutenção do sistema de transmissão CVT é extremamente simples. O maior cuidado a ser tomado é com o tipo de óleo a ser utilizado. Não pode ser utilizado qualquer óleo ATF, tem que ser indicado para transmissão CVT que atenda à especificação do fabricante da transmissão”, completa Stevanato.
Atualmente, Honda, Nissan, Renault e Toyota são as fabricantes que mais disponibilizam veículos no Brasil com este sistema. A Honda, por exemplo, recomenda para o Fit a substituição do óleo do CVT a cada 40 mil km ou 24 meses no uso severo e 80 mil km ou a cada 48 meses em condições normais.
“Em alguns modelos foi incluído o simulador de marchas, de até 8 marchas, mas é só uma simulação, já que no conceito CVT elas estão elas estão sempre variando”, finaliza o instrutor técnico da Bosch.
Mais informações – Bosch:
boschtreinamentoautomotivo.com.br
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