sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Retífica: alguns cuidados na hora de deixar o motor novo de novo

Retífica

Baixa pressão e consumo excessivo de óleo lubrificante, presença de ruídos anormais nos mancais, cilindros e cabeçote, baixa pressão de compressão, falta de estanqueidade nos cilindros, emissão excessiva de poluentes, baixo desempenho, consumo excessivo de combustível e marcha lenta irregular. Esses são principais sintomas que indicam que o motor chegou ao final da sua vida útil.

Por Fernando Landulfo

Mas, cuidado! Antes de tirar conclusões precipitadas, é preciso lembrar que apenas nos “casos terminais” todos eles ocorrem simultaneamente. Na maioria das vezes (desgaste natural), os sintomas vão surgindo e se acumulando de forma progressiva. E alguns como emissão excessiva de poluentes, baixo desempenho e marcha lenta irregular, são consequência de outros. O aparecimento repentino e simultâneo desses sintomas ocorre apenas nos acidentes como superaquecimento, calço hidráulico ou falta de lubrificação. Isso quando o motor não “trava de vez”.

Sim, chegou o “triste” momento em que o “Guerreiro das Oficinas” precisa informar o cliente que o seu precioso motor precisa ser retificado. “Triste” por que a “retífica” exige um considerável desembolso que, vias de regra, precisa ser exaustivamente justificado e negociado.

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RETIFICAR O MOTOR… ESSE É O TERMO CORRETO?

Sim, é isso mesmo. Apesar de retifica ser a denominação de uma operação de acabamento fino, que existe dentro do universo da usinagem (fabricação por remoção de material por forças de cisalhamento), esse termo foi utilizado pela ABNT na norma NBR 13032 para denominar “os serviços de reparação para o reestabelecimento das funções e requisitos originais de funcionalidade e durabilidade de componentes e/ou motor alternativo de combustão interna”. E as empresas que os executam foram denominadas como retificas de motores.

Neste ponto, é importante destacar que essa atividade não é apenas normalizada. A retífica de motores conta com uma entidade representativa de abrangência nacional: o Conselho Nacional de Retifica de Motores (CONAREM). E as empresas coligadas ao mesmo, apesar de terem que obedecer a norma NBR 13032 e um rígido Código de Ética e Procedimentos, contam com uma série de recursos técnicos e administrativos.

Retificar motores não é trabalho para qualquer um, pois, as responsabilidades são enormes. Afinal de contas, a quebra repentina ou a baixa durabilidade de um motor recém-retificado pode comprometer toda uma cadeia produtiva e/ou a sua viabilidade econômica. Da mesma forma, podem abalar seriamente a confiança nas relações entre mecânico e cliente. Os prejuízos podem chegar às alturas e são passíveis ações judiciais. E se as “coisas” não estiverem “bem certinhas” (em todos os aspectos), a fonte do “lucro fácil” pode ser facilmente detectada por um perito judicial. Consequência: os gastos com indenizações, honorários de advogados e custas processuais podem quebrar uma empresa pequena que não tenha lastro suficiente.

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E, nesse sentido, a NBR 13032 é bastante clara na sua definição de motor retificado completo: “motor básico usado que, após sofrer desgaste ou avaria, foi desmontado, usinado e montado com seus acessórios e periféricos revisados ou reparados conforme especificações técnicas, a fim de retomar as propriedades definidas, atingindo condições de desempenho e durabilidade equivalentes às do motor novo” (grifo nosso). Não há margens para “mal feitos”.

Isso sem falar que essa mesma norma é bastante rígida e detalhista no que diz respeito às questões técnicas. Uma simples leitura dela vai revelar uma série de equipamentos que precisam ser adquiridos, treinamentos que precisam ser feitos e procedimentos que precisam ser seguidos. Exigências que requerem investimentos constantes.

Pois bem, diante disso o Guerreiro das Oficinas deve pensar muito bem no caminho que deseja tomar:

A) Sugerir a troca do motor usado por um parcial novo, revisando e substituído os periféricos.

B) Fazer ele mesmo o serviço de retífica, terceirizando apenas os serviços que ele não tem condição de fazer na sua oficina: usinagem, testes de estanqueidade e trincas, ajustes especiais e balanceamento dinâmico.

C) Delegar a uma retífica todo o serviço relativo ao motor, ficando ele apenas encarregado de remover e reinstalar o motor.

A primeira opção (A) costuma ser a mais tecnicamente segura para o mecânico. Ora, trata-se de um conjunto novo com garantia de fábrica. Além do mais, o veículo fica menos tempo dentro da oficina. No entanto, nem sempre essa opção é financeiramente viável. Mas com a economia de escala, as montadoras tem diminuído bastante o valor desses conjuntos. Então, antes de tomar uma decisão, vale a pena fazer um orçamento. No entanto, é preciso lembrar que a oficina instaladora ainda é a responsável sobre o resultado final. Logo, todos os cuidados relativos a instalação recomendados pelo fabricante devem ser rigidamente respeitados. Além disso, o cliente precisa ser informado que existem exigências legais e respectivas despesas com relação à troca do motor.

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A segunda opção (B) costuma ser a mais financeiramente vantajosa para a oficina e cliente. No entanto, exige do mecânico maiores responsabilidades e aporte técnico. Ao optar por ele mesmo fazer o serviço, o “Guerreiro das Oficinas” deve estar ciente de que sobre os seus ombros pesa toda a responsabilidade técnica do serviço. Ou seja: mesmo que ele terceirize algumas operações, de acordo com a legislação, ele é o responsável pelo resultado final. E por essa razão, além de seguir rigorosamente o preconizado na NBR 13032, recomendam-se os seguintes cuidados:

– Medir as peças a serem usinadas com instrumentos periodicamente calibrados. Registrar essas medidas em relatório padronizado que deverá ser arquivado;

– Consultar as especificações técnicas do fabricante e definir cuidadosamente as novas medidas;

– Informar, por escrito, com clareza e de forma detalhada, a medida atual e a medida desejada de cada peça enviada à retifica que for fazer a usinagem. Da mesma forma, os testes e os ajustes especiais desejados. Exija relatório metrológico das peças e laudo dos testes realizados;

– Marcar as peças a serem enviadas à retífica;

– Conferir cuidadosamente se as peças recebidas são as mesmas que foram enviadas, assim como, as medidas proporcionadas pela usinagem e os demais serviços solicitados. Confrontar com o relatório metrológico fornecido. Verificar também a limpeza e conservação dos materiais contra corrosão.

A terceira opção (C) aparentemente é a mais confortável para o mecânico. No entanto, lembrando que ele continua sendo o responsável pelo resultado final, recomendam-se os seguintes cuidados:

– Selecionar uma retifica que além de ser de absoluta confiança, tenha todo o aporte técnico exigido pela NBR 13032, ofereça relatórios metrológicos por escrito e laudos dos testes executados e ofereça garantia dos serviços executados;

– Desmontar totalmente o motor e verificar o seu estado interno antes de enviar ao terceiro para serviço;

– Marcar de forma discreta as peças estrategicamente importantes (que devem ser substituídas e que devem retornar) antes de enviar ao terceiro para serviço;

– Exigir as peças substituídas de volta e conferir as marcações feitas anteriormente. Se foi cobrado tem que ter sido trocado;

– Se foi solicitado teste em dinamômetro, exigir relatório de desempenho;

– Na reinstalação, revisar e substituir todos os periféricos e acessórios que podem comprometer a durabilidade do motor. O importante é não fazer economia porca.

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