Artigo – Fernando Landulfo
Hora de revisar o veículo para a tão esperada viagem coma família. Só que muita gente (incluindo alguns “Guerreiros das Oficinas”) pensa que algumas peças precisam chegar ao limite da sua vida útil para serem trocadas (“espremer a laranja até o bagaço secar”).
Vamos tomar como exemplo uma simples correia sincronizadora. Atualmente, todo mundo sabe, e muito bem, o prejuízo que causa a quebra desse componente, quando o motor está em movimento.
Mas a prática de esticar a vida desse componente (e seus acessórios) continua ocorrendo. Principalmente com alguns modelos, cuja troca requer muita mão de obra.
Só que essa prática, pouco prudente, em outros componentes vitais do veículo, pode causar, na melhor das hipóteses, uma “belíssima” pane repentina. Algo que além de ser totalmente indesejado numa viagem de férias. Vendo a situação de um ponto de vista mais conservador, pode-se falar em colocar em risco, não só a segurança dos ocupantes do veículo, como das demais pessoas que utilizam a rodovia.
Fora os danos consequentes, em outros componentes ligados, de uma forma ou de outra, àquele que “quebrou”. Algo que vai totalmente contra os conceitos da manutenção preventiva e o seu principal objetivo: evitar a pane. Em outras palavras: o veículo deve parar para manutenção apenas quando programado. Só que a manutenção preventiva tem custo!
Um custo que é sabidamente menor do que aquele decorrente da manutenção corretiva decorrente uma pane em estrada (a literatura especializada está repleta de autores, pesquisadores e exemplos que confirmam essa tese). Mas será que o seu cliente está ciente? Pois, nem sempre, está disposto a arcar com os custos.
E como manutenção preventiva é um assunto técnico. Cabe então ao mecânico (o detentor do conhecimento técnico) abrir os olhos dele. Sim, um trabalho de convencimento que não é nada fácil. As pessoas costumam ser resistentes quando o assunto toca a parte mais sensível dos seus corpos: o bolso.
Via de regra, pensam que o profissional está querendo enganá-lo, para tirar mais algum dinheiro dele. Uma situação que o “Guerreiro das Oficinas”, que trabalha com ética transparência, repugna.
Dentro desse trabalho de convencimento é preciso deixar claro que, não só a correia sincronizadora, mas outros itens vitais para o funcionamento do veículo precisam de revisão e troca preventiva. Sobretudo numa revisão de férias.
E a melhor maneira é mostrar, com fatos técnicos as verdades da mecânica automotiva. Explicar como funcionam os sistemas e a suas respectivas importâncias para o funcionamento e segurança do veículo.
Nesse momento, confiança e conhecimento são as ferramentas que devem ser utilizadas. E as estatísticas estão aí para provar. Além disso é preciso deixar claro que uma revisão NÃO PODE se limitar ao básico. Pois aquilo que, muitas vezes, não é considerado básico pode interferir no funcionamento de itens vitais, ou mesmo, provocar um acidente.
Como exemplo, pode-se citar um simples sistema de limpador / lavador de para-brisa. Basta trocar a palheta? NÃO! É preciso verificar se o conjunto funciona adequadamente. E fazer os ajustes e/ou reparos necessários. Isso sem falar no abastecimento com os produtos corretos. Ou seja, todo o conjunto deve ser verificado. E afinal de contas, um veículo não é um conjunto de sistemas? Claro que sim.
Mas verificar especificamente o que? Bem, cada modelo de veículo tem a as suas particularidades. Mas de um modo geral, sugere-se o seguinte:
– Lubrificantes e filtros: Todos, de todos os compartimentos, precisam ser verificados e substituídos, se constatada a necessidade e/ou vencimento (quilometragem e/ou tempo). No caso específico dos lubrificantes, atentar as especificações e/ou recomendações dos fabricantes dos veículos. O cliente precisa saber a importância desses itens para o bom funcionamento do motor, e/ou transmissão e/ou diferencial, e/ou sistema de climatização. Não existe “liberação” de veículo para viajar com lubrificante / filtro vencido e/ou contaminado.
– Sistema de freios: Item já bastante conhecido do “Guerreiro das Oficinas”. Como se trata de item de segurança: Não existe “liberação” de veículo com os elementos de desgaste no final da vida útil, defeitos no sistema, peças danificadas, e /ou fluído vencido e/ou contaminado.
– Sistema de arrefecimento: Outro item já bastante conhecido do “Guerreiro das Oficinas”. Apesar de não estar diretamente ligado à segurança, o cliente deve saber que esse sistema é vital para o funcionamento do motor podendo, facilmente, imobilizar o veículo, além de causar gravíssimos danos oriundos do superaquecimento. Danos esses cuja reparação costuma ser bem cara. Logo, não existe “liberação” de veículo com vazamentos (teste de estanqueidade), mangueiras ressecadas, abraçadeiras deterioradas, fluído contaminado, sensor térmico, válvula termostática e bomba d’água, cujos períodos de troca recomendada se encontram vencidos, e/ou não inspiram plena confiança.
– Correias (sincronizadora e acessório): O cliente deve saber que esses componentes são vitais para o funcionamento do motor, pois tem a função de sincronizar o movimento das válvulas com a posição dos pistões (correia sincronizadora) e movimentar importantes acessórios (correia de acessórios). Por exemplo: bomba d’água, alternador e bomba de direção, bomba de vácuo (alguns veículos). Além de itens de conforto como o compressor do ar-condicionado. Logo, não existe “liberação” de veículo com correias visivelmente danificadas ou cujo período de troca está vencido ou a vencer muito em breve. Nesse ponto é importante lembrar da importância troca dos rolamentos tensionadores e apoiadores, de acordo com as recomendações dos fabricantes (veículos e/ou sistemistas).
– Sistema de alimentação (injeção ou carburador): O cliente deve saber que esses componentes são vitais para o funcionamento do motor, podendo provocar pane repentina (imobilização do veículo) e/ou incêndio, quando apresentam desgaste e/ou atingem o fina da sua vida útil. Isso sem falar nos danos que o motor pode sofrer devido: a deterioração do lubrificante, que uma contaminação pode combustível pode provocar, ou mesmo, um calço hidráulico (casos extremos). Nesse ponto também é importante ressaltar que sistemas de alimentação que apresentam mau funcionamento tendem a aumentar muito a emissão de poluentes. Logo, não existe “liberação” de veículo com peças visivelmente danificadas, carburador revisado e/ou sistema de injeção revisado e escaneado, bicos injetores testados (vazão, equalização e estanqueidade) e mangueiras ressecadas.
– Velas e demais componentes do sistema de ignição: O cliente deve saber que esses componentes são vitais para o funcionamento do motor, podendo provocar pane repentina (imobilização do veículo), quando atingem o fina da sua vida útil. Logo, não existe “liberação” de veículo com peças visivelmente danificadas ou cujo período de troca está vencido ou a vencer muito em breve. Nesse ponto, assim como ocorreu com o sistema de alimentação, é importante ressaltar que o mau funcionamento desse sistema tende a aumentar muito a emissão de poluentes.
– Bomba de combustível: Mais uma peça fundamental para o motor, cuja importância o cliente deve conhecer. Como a sua função é levar combustível sob pressão e vazão suficientes do tanque para a linha de alimentação do motor, o seu mau funcionamento pode provocar pane e imobilização do veículo. Logo, não existe “liberação” de veículo com peças não testadas (pressão e vazão) e cujos parâmetros de funcionamento não atendem as especificações dos fabricantes.
– Undercar (suspensão / direção): O cliente precisa estar ciente de que quem suporta o peso do veículo e sua carga são as molas. Quando se desgastam por fadiga, o veículo tende a abaixar, principalmente, na frente. Se não trocadas, sobrecarregam o amortecedor e consequentemente, diminui sua vida útil.
A função do amortecedor é reduzir a velocidade das oscilações da suspensão e com isso manter as rodas em contato com o solo. As fabricantes estimam que um amortecedor dure de 40 a 60 mil km, dependendo do tipo da peça e o piso sobre o qual o veículo roda: quanto mais regular, maior será a sobrevida da peça. Vazamentos, ruídos (batidas) e falta de amortecimento em piso irregular podem indicar o fim da vida útil da peça. Amortecedores novos montados com molas cansadas se desgastam mais rápido. Além disso, a troca dos batentes, coxins e rolamentos do amortecedor evita ruídos na suspensão.
No que diz respeito aos braços, barras, buchas e pivôs de suspensão, são elementos diretamente responsáveis pelo funcionamento do sistema de suspensão. Por operarem sob carga e condições extremas, estão sujeitas a desgaste, trincar e deformações. Danos nessas peças podem comprometer a dirigibilidade e/ou diminuir muito a vida dos pneus. O mesmo pode ser dito com relação a caixa de direção e seus respectivos braços e terminais. Como se tratam de itens de segurança: Não existe “liberação” de veículo com componentes danificados ou com funcionamento deficiente.
– Embreagem: Explique ao seu cliente que o conjunto tem como papel proporcionar o acoplamento entre motor e câmbio de forma para que haja um desligamento e um religamento suave entre eles. A embreagem deve ainda absorver as variações bruscas de torque do motor, visando o conforto para o motorista durante a troca de marchas. A manutenção é feita de acordo com o manual do proprietário, mas alguns sintomas como: patinação, trepidação, ruídos ou dificuldades no engate podem indicar problemas no sistema.
Como uma embreagem quebrada imobiliza o veículo, não existe liberação do mesmo sem um teste de funcionamento do conjunto de embreagem. Se houver evidências de que ele está na iminência de sofrer uma pane, explique ao seu cliente que o ideal é substituir preventivamente.
– Pneus: O “Guerreiro das Oficinas” conhece muito bem os riscos que um pneu “careca” oferece. No entanto, vale a pena lembrar que: pneus nesse estado tendem a furar e se deformar com maior facilidade, além do risco de aquaplanagem em situação de chuva. Pneus com bolhas, trincas nas laterais ou com excesso de consertos podem estourar e provocar acidentes graves.
É preciso ficar atento a marca TWI (o carocinho que fica no sulco do pneu). Quando ela coincide com a banda de rodagem é hora de trocar. Pneus com 3mm de profundidade de sulco, apesar de ainda estarem dentro da legalidade, merecem maior atenção. Como se trata de item de segurança: Não existe “liberação” de veículo com pneus em mau estado.
Sistema de carga e partida: Uma bateria que não está mais segurando carga direito pode causar falhas de ignição, de injeção e funcionamento dos demais sistemas eletrônicos, como o alternador. Nesses casos, fazer o motor pegar no tranco pode tirar uma correia dentada de ponto ou danificar o sistema de transmissão. Da mesma forma, partidas com bateria auxiliar (chupeta), se não for feita do modo adequado, podem danificar o alternador ou o sistema de gerenciamento eletrônico do veículo. Logo, não existe liberação do veículo sem antes fazer um teste de descarga na bateria, fuga de corrente do veículo, recarga do alternador e uma verificação do motor de partida.
Sistema de iluminação e sinalização: O “Guerreiro das Oficinas” conhece muito bem os riscos que um veículo com iluminação e sinalização deficiente oferece. Além da ilegalidade de se trafegar com esses sistemas inoperantes ou ineficientes. Logo, não existe liberação do veículo sem antes fazer uma verificação completa desses itens, que devem funcionar plenamente. Completa a verificação a checagem do alinhamento dos faróis.
Outro ponto importante da revisão de férias é que peças de má qualidade frequentemente têm baixa durabilidade e podem causar quebra precoce. Preferir sempre aquelas de boa procedência.
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