quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Raio X: Nissan Frontier LE 2.3

raio x Nissan Frontier

Picape média aposta na robustez do motor biturbo diesel e arranjo específico de suspensão

 

A atual geração da Nissan Frontier estreou no Brasil em 2017, com uma única versão vinda do México. Desde o fim de 2018, a picape é produzida na Argentina e vendida por aqui em quatro versões (S, Attack, XE e LE). A unidade aqui avaliada é a topo de linha, tabelada a R$ 223.370.

De fábrica, esta configuração traz controles de tração e estabilidade, assistente de saída em rampa, central multimídia de 8”, tela de 5” no quadro de instrumentos, sistema de câmeras 360°, volante multifuncional em couro, seis airbags, controle de cruzeiro, ar-condicionado digital, faróis em LED, chave presencial, banco do motorista com ajustes elétricos e teto solar.

A variante portenha da picape passou por mais de 300 mil quilômetros de testes para adaptação ao gosto do consumidor local, de acordo com a marca. A suspensão, por exemplo, ganhou nova geometria e molas de duplo estágio, enquanto freios e isolamento acústico foram reforçados.

O motor diesel é o mesmo 2.3 biturbo desde o lançamento, com 190 cv de potência a 3.750 rpm e 45,9 kgfm de torque de 1.500 a 2.500 rpm. O câmbio é automático de sete marchas e a tração, 4×4 com reduzida. A picape conta ainda com bons atributos para o uso off-road, como ângulo de ataque de 30,3°, ângulo de saída de 27,4° e vão livre do solo de 241 mm. O consumo no padrão Inmetro é de 9,2 km/l na cidade e de 10,5 km/l na estrada.

raio x Nissan Frontier

Cássio Yassaka, proprietário da oficina Cássio Serviços Automotivos

A capacidade de carga da versão LE é de 1.000 kg o que, vale ressaltar, inclui todo o peso de ocupantes e de carga na caçamba (de 1.054 litros). Com 3 anos de garantia, esta geração da Frontier já possui unidades circulando sem o período atrelado às revisões em concessionárias. Para avaliar as condições de reparabilidade da Frontier LE, levamos a picape à oficina Cassio Serviços Automotivos, em São Paulo, onde passou pela análise do proprietário e mecânico Cássio Yassaka.

COFRE DO MOTOR

Ao erguer o capô do motor, causa surpresa o reduzido ângulo de abertura da peça (de estágio único), de aproximadamente 45° (1). Apesar disso, a altura da picape acaba por facilitar o acesso aos componentes na região superior do motor, sem que o mecânico precise se encurvar.

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O sistema de arrefecimento possui válvula de expansão, como é comum entre os modelos de origem japonesa. “Para checar o nível, é importante verificar por meio da marcação no reservatório e também pela tampa do radiador (2), sempre com o motor frio”, orienta Yassaka.

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A tampa plástica superior do motor possui válvula de respiro (3) e de controle de pressão positiva do cárter. A turbina superior (4) possui fácil acesso, pela parte superior do motor. Próximas a ela ficam as válvulas de ar quente. Já a segunda turbina pode ser acessada por meio da caixa de roda dianteira direita. O módulo de injeção eletrônica (5) fica alojado próximo ao para-lama direito e é protegido por uma capa plástica fixada por duas presilhas. “Para remover qualquer plugue, sempre tome o cuidado de desligar a chave de ignição e aguardar alguns segundos”, explica o mecânico.

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O filtro de ar (6) possui fácil acesso, sendo necessário apenas remover uma abraçadeira metálica para realizar a troca – de acordo com o manual do proprietário, é indicada a limpeza do filtro “sem o uso de ar comprimido a cada 5 mil quilômetros” e a substituição deve ser feita a cada 12 meses ou 20 mil km – em caso de uso severo, o prazo cai pela metade.

raio x Nissan Frontier

“O papel filtrante, com o qual são fabricados os elementos dos filtros de ar , precisa ter uma permeabilidade controlada. Em termos práticos, significa deixar passar uma quantidade de ar, porém reter impurezas maiores que um determinado tamanho. Ao se tentar limpar um elemento de papel com um jato direto de ar comprimido pode ocorrer um aumento da dimensão dos poros. Com isso, o filtro passa a não reter partículas de um certo tamanho”, detalha o professor de Engenharia Mecânica e consultor técnico da Revista O Mecânico, Fernando Landulfo.

“A caixa de tomada de ar em posição elevada permite à picape transpor trechos alagados sem dificuldades”, observa o mecânico Cássio. De acordo com a Nissan, a capacidade de transposição da Frontier é de 450 mm, a uma velocidade máxima de 15 km/h. Outros elementos notados por Cássio que ficam em posição bem elevada para evitar problemas no uso off-road são os respiros das caixas de câmbio e de transferência (7) .

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O bocal de abastecimento do óleo do motor (8) fica à frente do motor, e não na tampa de válvulas, e conta com uma borracha de proteção a fim de evitar escorrimento do óleo.

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Para remover a corrente de sincronismo, é necessário remover todo o sistema de arrefecimento. “O conjunto de arrefecimento possui acoplamento multiviscoso, de baixa manutenção”, observa o mecânico.

As duas caixas de fusíveis principais (9) ficam alojadas atrás do filtro de ar, enquanto a caixa de fusíveis secundária é localizada no lado oposto do cofre, perto à unidade de gerenciamento do ABS/ESC. O recipiente de fusíveis interno (10) é posicionado na região do passageiro, sendo necessário remover o porta-luvas. Para isso, basta pressionar as duas extremidades da peça e soltar as travas laterais, como em outros modelos da linha japonesa. No mesmo local fica o compartimento do filtro de cabine (11), que, de acordo com o manual do veículo, deve ser substituído a cada 20 mil quilômetros ou 12 meses em uso normal (10 mil km ou 6 meses em uso severo).

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“Assim como o filtro de ar do motor, é de bom tom inspecionar o filtro de cabine a cada 5 mil km. Em ambientes muito úmidos, com baixa incidência de poeira, pode formar bolor no componente”, explica Landulfo. De volta ao cofre do motor, os reservatórios do fluido de freio (de cor amarelada, 12A) e do fluido de direção hidráulica (avermelhado, 12B) ficam em posição elevada, fáceis de checar a quantidade. “Para evitar destampar, verifique o nível com o uso de uma lanterna encostada no reservatório”, explica Cassio. A substituição do fluido de freio é recomendada pelo manual a cada 24 meses em uso normal ou 12 meses em uso severo, devendo ser utilizada a especificação DOT 3 ou DOT 4 (nunca devem ser misturados tipos diferentes de fluidos).

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Entre os dois reservatórios está a bateria (13) de 70 Ah. Mais atrás, é posicionado o filtro de combustível (14). A substituição deste componente é recomendada para cada 24 meses ou 20 mil quilômetros. Antes disso, a cada 10 mil km ou 12 meses, o mecânico deve verificar se há água no filtro e drená-la, se for o caso (há luz-espia de advertência no painel). Em condições severas, a Nissan recomenda a troca aos 12 meses (ou 10 mil km), sem necessidade de verificação na metade deste tempo.

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“Quando a qualidade do combustível utilizado não é confiável, é de bom tom diminuir ainda mais o período de drenagem do filtro separador de água. Uma operação rápida e simples que pode poupar muitas dores de cabeça para o mecânico”, orienta o consultor técnico da Revista O Mecânico.

FILTRO DE PARTÍCULAS DIESEL

O cuidado com a qualidade do combustível é um dos alertas feitos por Cássio Yassaka. “Usar diesel de má procedência pode causar acúmulo de mais particulados no catalisador e consequente entupimento dos injetores”, alerta. “Além disso, o motorista deve evitar dirigir com nível baixo de diesel no tanque, a fim de evitar sujeira e cavitação no sistema de injeção”, recomenda o mecânico.

Exclusividade da Frontier em relação às principais rivais com motorização diesel é que ela dispõe de um interruptor na cabine (15) para o acionamento da regeneração do filtro de partículas diesel (conhecido pela sigla DPF). Este filtro é responsável por reduzir a quantidade de materiais nocivos ao meio ambiente por meio da coleta das partículas inclusas nos gases de escape. Em uso normal, as partículas acumuladas no DPF são automaticamente queimadas e convertidas em substâncias inofensivas durante a condução. No entanto, estes materiais não são queimados em caso de uso severo, como uso predominante a baixas velocidades ou distâncias curtas.

raio x Nissan Frontier

Na Frontier, quando o acúmulo de partículas no DPF atingir o limite, uma luz-espia no painel e o botão do interruptor de limpeza acenderão. Quando isso ocorrer, o manual indica que o motorista dirija em alta velocidade (acima dos 80 km/h, em local permitido) para que a limpeza seja feita de forma automática, com duração aproximada de 30 minutos.

Caso não seja possível guiar a essa velocidade, é possível fazer a limpeza do filtro saturado por outro método, com o carro parado (como em outras picapes e veículos diesel). Para isso, estacione o utilitário em local aberto, acione o freio de estacionamento e mova a alavanca de câmbio para a posição P (no caso da Frontier de entrada, com caixa manual, deixe o câmbio em Neutro). Em seguida, basta acionar o botão de limpeza do DPF (à esquerda do volante) e o carro oscilará automaticamente a rotação do motor entre 1.700 rpm e 3.000 rpm, de acordo com a temperatura. Todo este processo leva, em média, 45 minutos, de acordo com a Nissan.

“É uma função interessante, que permite que o próprio motorista faça a limpeza do filtro de partículas”, comenta o mecânico.

UNDERCAR

A Frontier possui o tradicional arranjo das picapes médias, com construção do tipo carroceria sobre chassi de longarinas (ao contrário da estrutura monobloco, utilizada por automóveis e picapes como Fiat Toro e Renault Duster Oroch). E a parte inferior da picape chamou atenção positivamente do mecânico. “O conjunto de longarinas é bastante reforçado, o que mostra a robustez do projeto”, observa.

A suspensão dianteira (16) possui arranjo de braços sobrepostos e barra estabilizadora. “Os pivôs são de fácil acesso e não exigem troca das bandejas”, explica. Na traseira, a picape traz o tradicional eixo rígido de outros utilitários médios, com barra estabilizadora (17). Porém, a Nissan optou por molas helicoidais (em vez de feixe de molas semielípticas). Além disso, o arranjo de suspensão conta com cinco braços, o que a Nissan chama de multilink (multibraço) – vale frisar, o conjunto não é independente (18).

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Um dos elementos da suspensão traseira é a barra Panhard (19), que ajuda a ancorar lateralmente o eixo rígido. Com isso, há menor sensação de “sacolejo” pelos ocupantes ao transpor obstáculos com a caçamba vazia. Ambas suspensões possuem ajuste de cambagem (20), com marcadores para referência na hora do alinhamento.

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Na seção central do carro, Cássio notou que o eixo cardã possui uma capa protetora (21) para evitar impactos com pedras e outros detritos. A caixa de transferência (22) também possui fácil acesso para manutenção e troca do óleo, além de contar com sensores de gerenciamento eletrônico. O fluido recomendado possui especificação ATF D3M e a capacidade é de 1,5 litro – não há previsão de troca, apenas em caso de vazamento. Na opinião de nosso consultor técnico, é recomendável a substituição preventiva do fluido da caixa de transferência juntamente com o fluido da transmissão.

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O cárter do câmbio possui medidor de nível (23). “Para abrir a caixa, é necessário baixar a travessa inferior do câmbio, bem robusta”, observa o mecânico. O fluido indicado para a caixa automática é o Nissan Matic S ATF (a quantidade não é informada pela marca), com troca prevista para cada 40 mil km ou 24 meses em caso de uso severo.

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Já o cárter do motor é de alumínio (24). O acesso ao filtro de óleo é feito pela parte inferior, por meio de uma abertura específica no protetor de cárter. “O filtro é do tipo ecológico, onde só se substitui o elemento filtrante”, conta. A troca de óleo e filtro de óleo é indicada para cada 10 mil quilômetros ou 12 meses – ou metade do intervalo em uso severo. O óleo possui especificação SAE 5W-30, ACEA C4 DPF, com 6,3 litros de reabastecimento considerada a troca do filtro. O torque de aperto do bujão de dreno é de 50 Nm. Já o torque de aperto da cobertura do filtro de óleo é de 25 Nm.

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O sistema de arrefecimento possui torneira para drenagem, com vida útil prevista no manual de 168 mil quilômetros ou 7 anos. A capacidade do sistema é de 11,1 litros, com indicação de uso do fluido de arrefecimento original Nissan. A sonda lambda é acessível pela caixa de roda dianteira-direita.

A realização do rodízio de pneus é indicada pela Nissan para cada 5 mil quilômetros, tanto para versões com tração traseira (4×2) como para tração nas quatro rodas (4×4). O rodízio de pneus da Frontier compreende a troca de pneus entre os eixos, sem alteração do lado de rodagem. Na versão avaliada, a Frontier traz jogo de parafusos antifurto nas rodas (25). Por isso, é importante confirmar se o proprietário dispõe do segredo para a remoção, geralmente guardado no porta-luvas ou na região das ferramentas de emergência (macaco/chave de roda/triângulo). O torque de aperto das porcas das rodas é de 133 Nm.

raio x Nissan Frontier

“De modo geral, a manutenção da Frontier é bastante tranquila, com fácil acesso aos principais componentes. O mecânico não terá surpresas”, opina Yassaka. “Pela minha experiência com modelos da Nissan, porém, temo pelo tempo elevado de espera por peças em caso de necessidade de substituição”, ressalta Cassio, que também trabalha com funilaria. Na opinião dele, entretanto, a Frontier se destaca pela ótima robustez do conjunto mecânico e de toda a estrutura sob a carroceria.

 

raio x Nissan Frontier

 

Texto e fotos Gustavo de Sá

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