Segurança e saúde profissional são assuntos que precisam ser tratados com muita seriedade; saiba a quais riscos ocupacionais o mecânico está exposto
Artigo por Fernando Landulfo
Definitivamente, não há o que discutir quanto à importância do “Guerreiro das Oficinas” e da sua atividade dentro da economia. Afinal de contas, é mais do que sabido que, tanto no Brasil quanto em outros países, a indústria da reparação de veículos gera milhares de empregos: tanto diretos, como indiretos. Segundo Binder e outros (2001), a grande maioria das oficinas são constituídas de pequenas e médias empresas, onde o proprietário também assume a responsabilidade pela sua segurança e saúde, assim como, dos seus colaboradores. E “todo mundo” sabe que consertar veículos é uma atividade de risco.
Binder e outros (2001) reforçam esta hipótese afirmando que, na Europa, França e Inglaterra dispõem de sólidas estatísticas a respeito de acidentes em oficinas mecânicas. Logo, a segurança e a saúde profissional do mecânico são assuntos que precisam ser tratados com muita seriedade.
Para começar é preciso, antes de tudo, conhecer os fatores que expõem a saúde do mecânico, assim como, os riscos envolvidos no ambiente da oficina.
Segundo a Dra. Andreia Fuchs1, estudos demonstram que os problemas que mais afetam à saúde, assim como, a segurança dos mecânicos, são: traumas e lesões e as doenças do sistema músculo esqueléticos, como a Lesão por Esforço Repetitivo (LER)2 e as Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho (DORT). De acordo com a fisioterapeuta, os sintomas mais comuns são: dores de cabeça, ombros, pernas e costas, seguidas de câimbras, sensação de formigamento, dormência, cansaço maior que o normal durante a jornada de trabalho, sensação de peso nos membros, fadiga muscular acompanhadas ou não de perda de força muscular.
Binder e outros (2001), por suas vezes, complementam com: doenças de pele, reações alérgicas, a irritação ocular, problemas respiratórios, além de uma extensa relação de riscos de acidentes, pertinentes ao ramo de atividade do “Guerreiro das Oficinas”:
a) Acidentes / cortes gerados pelo manuseio de ferramentas ou fragmentos de peças danificadas;
b) Ferimentos causados por ar ou água sob pressão;
¹ CREFITO-3/Nº105567-F.
² LER: doenças do trabalho provocadas pelo uso inadequado e excessivo do sistema que agrupa
ossos, nervos, músculos e tendões. Atingem principalmente mãos, punhos, braços, antebraços,
ombros, coluna cervical e lombar, típicas do trabalho intenso e repetitivo.
c) Lesões oculares por corpo estranho;
d) Acidentes de trânsito durante teste de veículos;
e) Quedas relacionadas a condições de pisos;
f) Acidentes com máquinas manuais motorizadas;
g) Queda de materiais sobre o corpo;
h) Acidentes com equipamentos para elevação de veículos;
i) Queimaduras por: contato com superfícies aquecidas, incêndios, explosões de tanques ou do mau armazenamento e manuseio de combustíveis;
j) Choques elétricos;
k) Exposição ao ruído excessivo: em algumas circunstâncias, os níveis de ruído podem atingir valores em torno de 110 dB(A). Na dependência do tempo de exposição diária, níveis acima de 85 dB(A) podem lesionar o aparelho auditivo;
l) Exposição a vibrações por manuseio de ferramentas manuais motorizadas;
m) Exposição a radiações ultravioleta e infravermelha em operações de corte e solda;
n) Intoxicação crônica, a exposição a gases e substâncias provenientes de emissões da combustão incompleta de gasolina e de óleo diesel;
o) Esforço físico excessivo no manuseio de cargas, levantamento de peso excessivo. Em tempo, a Dra. Andreia Fuchs3 lembra que o artigo 198 da CLT, estipula que o peso máximo que um trabalhador pode carregar individualmente é: 60 kg para o homem e 25 kg para mulher. Já a NR-17, diz que nenhum trabalhador pode exercer força cujo peso for susceptível a comprometer sua saúde e segurança. No entanto a acima citada profissional afirma que o limite de segurança no levantamento de peso ou transporte de objetos e peças, não deve exceder 10% do peso corporal do indivíduo, a fim de prevenir a incidência de doenças ocupacionais acima citadas;
p) Manipulação de substâncias químicas, utilizadas para limpeza de peças.
Binder e outros (2001), afirmam que combustíveis, solventes orgânicos, dentre outras substâncias químicas, geram problemas de pele, como: dermatites, assim como, alterações hepáticas, renais, hematológicas, e no sistema nervoso por serem irritantes relativos.
De acordo com a Dra. Andreia Fuchs4 , alguns desses riscos podem ser evitados ou minimizados. Para tanto, existem legislações e procedimentos específicos. Por exemplo:
1) PPRA – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (verifica-se os riscos e exposição dos trabalhadores, ruídos, iluminação e ventilação adequada do ambiente);
2) PCMSO – Programa de Controle Médico e de Saúde Ocupacional (visa averiguar anualmente as condições de saúde dos trabalhadores como por exemplo acuidade visual, auditiva);
3) Entregar/fornecer, treinar e fiscalizar o uso de EPIs (NRs 5, 6, 7, 9, 10, 15, 16 e 35);
4) Estabelecer condições mínimas de limpeza, higiene e sinalização de segurança;
5) Adquirir e treinar o uso de equipamentos de combate incêndio – AVCB em dia. Se possível, treinamento Brigada de Incêndio;
6) Orientação sobre aspectos ergonômicos (NRs 15, 16 e 17);
7) Promover ações rotineiras para prevenção de acidentes/Diálogo Diário de Segurança (DDS). É importante saber o que fazer em situações de emergência.
REFERÊNCIAS:
BINDER, Maria Cecilia Pereira; WERNICK, Renato; PENALOZA, Renato Rommel; ALMEIDA, Idalberto Muniz de. Condições de trabalho em oficinas de reparação de veículos automotores de Botucatu (São Paulo): nota prévia. Informe Epidemiológico do SUS, Brasilia, v.10, n.2, p. 67-79, jun. 2001. ISSN: 0104-1673.
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