terça-feira, 23 de julho de 2024

Desmontamos a Transmissão Xtronic CVT do Nissan Kicks: como fazer a manutenção?

Diagnóstico do câmbio, que também equipa Versa e Sentra, começa por identificar se existe algum vazamento, peças quebradas e se todos os conectores estão ligados

texto Felipe Salomão   fotos Lucas Porto

A transmissão automática deve ficar ainda mais popular nos próximos anos, uma vez que o estudo feito pela consultoria S&P Global mostra que apenas 5% dos veículos vendidos no Brasil até 2030 terão câmbio manual, sendo o restante automáticos. Atualmente, os modelos com transmissão automática são 60% do mercado brasileiro e, claro, esses veículos já começam a chegar nas oficinas pelo país. Por isso, atenta com essa movimentação do mercado, a Revista O Mecânico traz o passo a passo da desmontagem e montagem da transmissão automática Xtronic CVT, que hoje equipa os Nissan Kicks, Sentra e Versa e, no passado, equipou o March 1.6. Contudo, antes de apresentarmos esse processo é preciso dizer como funciona esse câmbio japonês.

Como funciona o Xtronic CVT?

A partir de 2016, a Nissan começou a oferecer o câmbio Xtronic CVT no March e Versa, ambos modelos populares de alto volume de vendas, fazendo com que a transmissão ficasse mais popular nesse segmento de hatches e sedãs. Além disso, o Kicks que é um dos mais vendidos do segmento de SUVs usa essa transmissão desde o seu lançamento. Segundo a fabricante japonesa, o sistema da transmissão é constituído por duas polias de diâmetro variável, que estão ligadas por uma correia metálica, sendo que a primeira, conhecida como condutora, recebe o torque do motor, e a secundária, também chamada de conduzida, transmite a força para o diferencial.

Cada polia tem dois cones que se afastam ou se aproximam, além de diminuir ou aumentar a largura do canal onde passa a correia, assim elevando ou reduzindo a velocidade do carro de acordo com as demandas do pedal do acelerador. Ademais, quando os cones estão juntos, esse canal fica mais estreito e o raio da polia aumenta. Por exemplo, em marcha reduzida, a polia condutora apresenta um raio menor com o afastamento dos cones, enquanto a polia conduzida fica com raio maior. Portanto, na medida em que o veículo ganha velocidade, o movimento das polias se inverte e a relação de marcha fica maior. A distância entre as polias é fixa, como também o comprimento da correia. Deste modo, a transmissão conta com uma infinidade de marchas entre menores e maiores relações. Todavia, como é feito o diagnóstico do câmbio Xtronic CVT.

Diagnóstico do câmbio

Para fazer o diagnóstico de defeitos da transmissão automática Xtronic CVT contamos com a ajuda de Claudinei Oliveira Dias, Especialista Técnico da Nissan, que informou quais são os primeiros passos que o mecânico deve seguir para checar o câmbio automático da Nissan: “primeira coisa é que o cliente vai reclamar de algum problema, seja de performance, algum tipo de ruído ou alguma luz de anomalia no painel indicando problema. Em seguida é preciso verificar coisas básicas, como se não tem nenhum tipo de vazamento de óleo, se não tem nenhuma peça quebrada visivelmente, se todos os conectores elétricos estão ligados, se houve algum reparo anterior e, também, procurar saber todo o histórico do fluído”, analisou. Diagnóstico feito é preciso ter atenção com o fluido da transmissão.

Troca do fluido da transmissão

A Nissan recomenda a troca do fluido da transmissão, só que com um, porém. “A gente recomenda a troca, porém, a Nissan utiliza um contador que está na central eletrônica da transmissão e ele vai fazer uma contagem do envelhecimento do fluído. Essa contagem é baseada no tipo de estilo de transmissão, temperatura geral do sistema, se o veículo anda em estrada ou cidade. Muitos confundem o contador com a km do painel, só que ele é contador independente, podendo acelerar mais ou menos a velocidade do painel a depender de como a pessoa dirige. Portanto, geralmente, quando a pessoa anda mais em estrada o contador conta menos do que a km indicada no painel, uma vez que a condição da estrada é menos estressante para o câmbio, pois ela está em uma constante sem variação”, disse Claudinei.

Segundo o Especialista Técnico da Nissan, o contador conta até 210 mil km e acima dessa quilometragem será necessário fazer a troca do fluido. Abaixo não há necessidade. Além do contator, no visual é possível identificar um óleo novo e um velho, pois o novo tem uma coloração menos densa (a1). “Dentro da transmissão temos a cinta e a polia, trabalhando metal com metal, sendo que o fluido tem a propriedade de melhorar o grip entre essas duas peças, facilitando a transmissão do movimento delas sem patinar ou travar. Portanto, se você tiver algum problema na transmissão você vai ter um deslizamento na polia, que vai gerar um atrito excessivo de temperatura desgastando a cinta e a polia”, afirmou Claudinei.

O fluido correto para aplicar na transmissão Xtronic CVT da Nissan é o NS3, que é um fluido específico vendido na rede de concessionárias da Nissan, atendendo os modelos March, Versa, Kicks e Sentra. Apesar de vender o fluido, a montadora raramente faz o reparo da transmissão, pois prefere substituir a transmissão danificada por uma nova com o objetivo de garantir a qualidade no pós-vendas.

Desmontagem

1)    Com uma parafusadeira elétrica com soquete de 10 mm retire o sensor de velocidade primário. Observação: Os sensores são todos iguais, por isso, não há diferença no encaixe, uma vez que as peças são únicas.

2)    Com uma chave de 24 mm retire o sensor de pressão.

3)    Com cabo de força e um soquete de 14 mm retire a porca do eixo do sensor de posição da alavanca.

4)    Com uma parafusadeira com soquete de 10 mm retire o sensor de posição da alavanca.

5)    Com as mãos retire a mangueira do respiro.

6)    Com uma chave de 12 mm retire o parafuso da chapa do conversor de torque.

7)    Com as mãos retire o conversor de torque. Observação: O conversor sempre terá fluido. Portanto, para manter o local limpo coloque sobre uma bandeja.

8)    Com uma parafusadeira com soquete de 10 mm retire o cárter de óleo. Observação: Antes de retirar o cárter drene o fluido, mesmo assim vazará pequenas quantidades de fluido. Também verifique os três imãs dentro do cárter, que são responsáveis por coletar as limalhas de metal que estão em suspensão no fluido. Caso esteja sujo pode indicar problemas na transmissão.

9)    Com uma parafusadeira com soquete de 10 mm retire o pescador do óleo, que também tem função de pré-filtro.

10)  Com uma chave de fenda e um soquete de 14 mm retire o braço de acionamento da válvula manual.

11)  Com uma parafusadeira com soquete de 10 mm retire os parafusos do controle hidráulico, seguindo a sequência indicada na cabeça dos parafusos (11a). Observação: No controle hidráulico há os sensores de pressão, as eletroválvulas de controle, sensor de temperatura do fluido e a ROM, que tem a memória do funcionamento do conjunto. Desta forma, toda vez que troca esse conjunto é necessário apresentar a ROM para o conjunto novo (11b).

12) Com uma parafusadeira com soquete de 10 mm retire o trocador de calor. Observação: Sempre troque os anéis de vedação.

13)  Com uma parafusadeira com soquete de 12 mm e, também, com uma chave de 12 mm retire a tampa da transmissão.

14)  Com a ajuda de uma espátula faça força para retirar a tampa da transmissão, pois há uma cola na carcaça da peça. Observação: Atenção para a pista do rolamento, que fica colada na carcaça, pois depois tem que ser montada na mesma posição. Por isso, não deixe cair no chão.

15)  Com as mãos retire o eixo do pião com a coroa. Observação: tenha atenção com os anéis de vedação, pois se tiver alguma ruptura indicará problemas com a transmissão. Na montagem troque os anéis de vedação.

16)  Com uma pinça remova os anéis de vedação da carcaça. Observação: eles têm que ser substituídos na montagem.

17)  Com um alicate de abrir travas retire as engrenagens de acionamento da bomba hidráulica juntamente com a corrente.

18)  Com uma parafusadeira e um soquete de 10 mm retire o tubo de transmissão do fluido.

19)  Com uma parafusadeira e um soquete de 10 mm e 12 mm retire defletor de óleo da bomba.

20)  Com uma parafusadeira e um soquete de 12 mm retire o guia do conversor de torque.

21)  Com as mãos retire o eixo de entrada, sempre tomando cuidado com o rolamento e arruela de apoio.

22)  Para remover o eixo de acionamento da válvula manual coloque o eixo na posição de Parking e com um martelo e um saca pino retire o pino elástico da roda dentada ao eixo.

23)  Com uma parafusadeira e um soquete de 10 mm retire a mola de tensão da roda dentada.

24)  Com cuidado remova a mola roda dentada tirando o acionamento da trava do parking e o pino guia para retirar o eixo de acionamento da válvula manual.

25)  Com uma parafusadeira com soquete de 10 mm retire a bomba e os anéis de vedação de cobre e borracha, que devem ser trocados na montagem.

26)  Com uma parafusadeira com soquete de 10 mm retire o defletor

27)  Com uma chave de fenda retire a trava de parking.

28)  Com uma chave torx fêmea E14 retire o suporte do guia da trava de parking.

29)  Com uma parafusadeira use uma ferramenta E16 Torx para retirar a tampa do conjunto de freios epicicloidal.

30)  Com as mãos retire a placa de pressão, o rolamento do cubo sincronizador e cubo sincronizador com os discos de freio.

31)  Com uma pinça retire o guia do rolamento, as engrenagens epicicloidais e a outra parte das engrenagens epicicloidais.

32)  Com uma chave de fenda tire a trava e remova o segundo freio da carcaça e depois os discos e pratos.

33)  Com a parafusadeira e um soquete de 10 mm retire o alojamento do filtro de óleo e, posteriormente, o filtro de óleo.

34)  Com a parafusadeira e um soquete de 10 mm retire a tampa da cinta e das polias.

35)  Com uma pinça retire os anéis de vedação de pressão dos pistões das polias.

36)  Com a parafusadeira e um soquete de 12 mm retire os dois parafusos dos rolamentos do eixo de saída.

37)  Com ajuda de uma chave de fenda retire as polias e a cinta da carcaça

Coração do CVT

O “coração do CVT” são as polias primárias e secundárias, além da cinta, que é formada por vários anéis de aço para ter maleabilidade para abrir e fechar as polias. Na transmissão utilizada para essa reportagem, a Nissan disponibilizou uma que estava com problemas por conta da falta de óleo, uma vez que sofreu com graves avarias no cárter, que gerou um desgaste na lateral da cinta, fazendo ela patinar nas polias, perdendo tração. Inclusive, todo esse desgaste metálico foi impregnado no fluido com limalha de metal.

Para fazer o diagnóstico da cinta é preciso utilizar um boroscópio, que permite ver a peça com imagens ampliadas, mostrando que os metais da cinta estão lisos e não porosos como numa cinta nova. Neste caso, é necessário trocar a cinta e as polias. Lisos (A) e Porosos (B).

Montagem

Observação: Antes de começar a montagem da transmissão Xtronic CVT é necessário deixá-la extremamente limpa, removendo colas, além de ter atenção com a montagem dos discos e pratos desgastados. Caso tenha peças danificadas é fundamental fazer substituição. Utilize uma cola líquida para fazer o fechamento da carcaça, que segundo a marca, é a Loctite 5460. Lembrando, a Nissan não faz esse reparo, visto que prefere trocar a transmissão por completo para preservar a qualidade da transmissão. 38)  Coloque novos anéis de vedação na carcaça sempre utilizando o fluido NS3 Nissan. 39)  Passe a cola líquida. Lembrando, para efeitos didáticos a gente não utilizou.

40)  Coloque a carcaça sobre o conjunto de cinta e polia e faça a sequência de aperto cruzado aplicando o torque de 27 Nm.

41)  Aplique o torque de 30 Nm nos parafusos do eixo de entrada.

42)  Troque o filtro de óleo, sempre lubrificando com fluido NS3 Nissan e colocando um novo anel de pressão.

43)  Aplique o torque de 5.6 Nm na tampa do filtro de óleo.

44)  Com as mãos e muito cuidado monte os rolamentos de apoio dos conjuntos epicicloidais superiores e inferiores, a arruela de encosto, a epicicloidal e os pratos e os discos, sempre com atenção para a posição correta. Por fim, o prato mais grosso e fecha tudo com a trava.

45)  Com as mãos encaixe o rolamento de apoio, sempre utilize o fluido NS3 para lubrificação da peça.

46)  Lubrifique o rolamento de encosto do tambor e o coloque sobre o rolamento de apoio.

47)  Para montar a embreagem de segunda marcha coloque intercale prato e disco sempre alinhando os dentes do disco com o rolamento de apoio, finalizando com uma mola prato que tem formato convexo, sendo a parte mais alta coloca para cima para o acionamento do pistão, mas antes coloque o conjunto de molas e, depois, o pistão. Observação: Há um ressalto no pistão, que deve ser encaixado corretamente na carcaça.

48)  Aplique o torque de 30 Nm nos parafusos da tampa, lembrando utilize os guias de montagem, que ficam alinhado com o furo de lubrificação da tampa e com o furo de entrada do pistão.

49)  Para montar a bomba coloque primeiro os anéis e, posteriormente, coloque a bomba aplicando o torque de 20 Nm.

50)  Coloque o eixo da alavanca de seleção, colocando o pino guia primeiramente e depois o pino trava.

51)  Coloque o defletor aplicando torque de 5 Nm.

52)  Coloque a mola do eixo de seleção aplicando torque de 5 Nm.

53)  Coloque o guia da trava de parking aplicando o torque de 27 Nm.

54)  Coloque o mecanismo da trava de parking com as mãos, o calço de apoio do rolamento do eixo de entrada, o rolamento do eixo de entrada e, depois, o eixo de entrada. Todos devem ser lubrificados com o fluido NS3.

55)  Coloque o rolamento de encosto de eixo de entrada no alojamento e montamos o tubo guia e, posteriormente aplique o torque de 27 Nm nos parafusos de 8 mm e cabeça de 12 mm e nos parafusos de 10 mm aplique o torque de 5 Nm.

56)  Coloque o tubo de borracha de vedação do freio do tambor da segunda marcha e aplique o torque de 5 Nm nos parafusos dessas peças.

57)  Após lubrificar a engrenagem e a corrente da bomba de óleo, coloque-as no alojamento abrindo a trava com um alicate, uma vez encaixada não é possível remover a engrenagem posteriormente.

58)  Coloque novos elementos de vedação para montar o conjunto do pinhão e coroa. Observação: Essas peças devem ser encaixadas juntas com cuidado para não danificar o anel de vedação do pinhão.

59)  Monte a arruela de encosto do rolamento da engrenagem da bombade óleo.

60)  Aplique o torque de 27 Nm nos parafusos da tampa da transmissão, sempre com aperto cruzado.

61)  Antes de montar o controle hidráulico troque o anel de vedação e deixe a peça extremamente limpa. Os parafusos do controle devem ser apertados do centro para extremidades com torque de 7.9 Nm.

62)  Coloque alavanca da válvula manual aplicando o torque de 22 Nm.

63)  Coloque um novo anel de vedação no pescador e aplique o torque de 5 Nm.

64)  Coloque uma junta nova e aplique o torque de 5 Nm com aperto do centro para extremidades.

65)  Coloque o sensor de posição da alavanca utilizando uma ferramenta especial para alinhar a posição de encaixe dos parafusos, que recebem o torque de 5 Nm. (65a) Ao remover a ferramenta, basta colocar a alavanca superior, pois é nela que o cabo que aciona o sistema é fixado. O parafuso da alavanca recebe o torque de 17 Nm (65b).

66)  Coloque os sensores, começando com o do eixo de entrada com torque de 5 Nm (66a), depois o sensor do eixo secundário também com torque de 5 Nm (66b) e, por fim, o sensor de saída com torque de 5 Nm (66c). Faça a montagem do respiro e coloque o sensor de pressão de 20 Nm (66d).

67)  Coloque novos anéis de vedação no trocador de calor e aplique o torque de 5 Nm.

68)   Na montagem do conversor de torque, substitua o anel do eixo de entrada e lubrifique o conversor de torque para ajudar na montagem. Faça essa montagem com cuidado encaixe na transmissão. Enfim, a Nissan informa que todos os periféricos da transmissão Xtronic CVT podem ser trocados pelos mecânicos com as peças oferecidas nas concessionárias da montadora.

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