Componente é parte fundamental do sistema de suspensão, permitindo estabilidade e conforto
Essencial no sistema de suspensão, o amortecedor é responsável por garantir estabilidade, conforto e segurança nos veículos. Além do comportamento dinâmico, esse componente tem influência direta na aderência dos pneus e na eficiência das frenagens. Desde sua criação, os amortecedores passaram por uma série de evoluções, chegando até os sistemas usados nos dias atuais. Dessa forma, a revista O Mecânico apresenta uma análise da história, do funcionamento e das características construtivas dos amortecedores, comparando diferentes tipos de sistemas e avaliando os riscos de se economizar na manutenção desse importante componente.
Os amortecedores surgiram como uma necessidade na proporção que os veículos passaram a atingir maiores velocidades e a utilizar suspensões mais complexas. No início do século XX, os sistemas de suspensão tinham construção por feixes de molas, que absorviam parte dos impactos, mas geravam oscilações excessivas. Assim, surgiram os primeiros amortecedores de fricção, que utilizavam discos de material resistente que ao se pressionarem dissipavam energia mecânica. Com o avanço da tecnologia automotiva e o aumento das exigências de segurança e conforto, a fricção seca foi substituída por amortecedores hidráulicos, tecnologia que é utilizada até hoje.
O desenvolvimento de sistemas hidráulicos melhorou o controle dinâmico e a condução dos veículos, conforme destacado por estudos como o de Bender e Schramm (SAE Technical Paper 1999-01-0645) [1] que demonstram a importância do amortecimento na estabilidade lateral e longitudinal do automóvel. Atualmente, há diversas novas tecnologias nos amortecedores, como válvulas proporcionais, controle eletrônico, ajustes no amortecimento e compressão, além de outras, mostrando que ainda hoje há espaço para melhoria desse componente.
Função do amortecedor
No veículo, a função principal do amortecedor é controlar o movimento das molas da suspensão, convertendo a energia cinética armazenada nas molas em calor dissipado no fluido interno. Essa dissipação é fundamental para reduzir as oscilações do conjunto roda e carroceria, garantindo que o pneu mantenha contato constante com o solo. Sem essa função, o veículo sofreria instabilidade, ocasionada pela perda de contato dos pneus e balanço excessivo, prejudicando a estabilidade direcional, o conforto e a aderência em frenagens e curvas.
Do ponto de vista técnico, o amortecedor atua como um dispositivo de controle de energia. Conforme observado em estudos da Society of Automotive Engineers (SAE – Sociedade de Engenheiros Automotivos) [2], o coeficiente de amortecimento é calculado pelas fabricantes para atingir um compromisso entre conforto e estabilidade, obtido através de testes dinâmicos que simulam diferentes frequências de funcionamento da suspensão.
Além de controlar o movimento vertical, os amortecedores também influenciam o comportamento em manobras rápidas. Em curvas, o controle da transferência lateral de carga é afetado diretamente pela rigidez e pela resposta hidráulica das válvulas internas. Um amortecedor com válvula de retorno lenta pode gerar subesterço, enquanto um amortecimento excessivo na compressão pode reduzir a aderência em pisos irregulares.
Amortecedor de ação simples
O amortecedor de ação simples é o tipo mais básico de dispositivo hidráulico, presente em veículos mais antigos ou em eixos que não são de tração. Seu funcionamento se dá apenas em uma direção de movimento, normalmente na extensão do curso da suspensão. Quando o pistão é puxado para fora, o fluido passa por uma válvula calibrada, oferecendo resistência ao movimento. No sentido contrário (compressão), a passagem é livre, o que reduz o controle e torna o sistema dependente da ação das molas.
Devido a essa característica, o amortecedor de ação simples é menos eficaz para controlar oscilações rápidas ou impactos sucessivos. Entretanto, sua construção é mais simples, com menor número de válvulas e vedações, o que reduz custos de manutenção.
Amortecedor de ação dupla
O amortecedor de dupla ação, por outro lado, atua tanto na compressão quanto na extensão do curso. O fluido é forçado a passar por válvulas calibradas em ambas as direções, garantindo maior controle do movimento da suspensão. Essa configuração proporciona resposta mais linear e previsível, melhorando a estabilidade e o conforto em pisos irregulares.
Além disso, o amortecedor de ação dupla permite um melhor ajuste entre conforto e desempenho, pois a fabricante pode calibrar separadamente a força de compressão e de retorno. Estudos comparando amortecedores de ação simples e dupla em relação ao conforto [3] mostram que sistemas de dupla ação, para um mesmo nível de flexão da suspensão, apresentam maior carga de compressão e rebote, melhorando o conforto em comparação a modelos de ação simples.
Vantagens e desvantagens de cada tipo de construção
Entre as vantagens do amortecedor de ação simples estão o custo reduzido, a manutenção simplificada e o menor risco de vazamentos, devido a uma menor complexidade interna. Por outro lado, sua capacidade de controle dinâmico é inferior, fazendo com que ele seja inadequado para veículos com maiores exigências de estabilidade.
Já o modelo de dupla ação oferece resposta mais precisa, menor transferência de peso em frenagens e curvas e redução significativa das vibrações transmitidas para a carroceria. Sua principal desvantagem é o custo de fabricação e a maior necessidade de precisão na vedação, o que aumenta o risco de falhas por desgaste. Em aplicações esportivas ou de alta performance, esse tipo de amortecedor é o mais indicado.
Portanto, a escolha entre os dois tipos deve considerar não apenas o custo, mas o comportamento dinâmico, conforto e a utilização do veículo. Um hatch compacto pode operar com amortecedores de ação simples, por exemplo, mas um sedã ou SUV grande geralmente requerem amortecedores de dupla ação.
Principais sinais de desgaste nos amortecedores
Conforme o uso, os amortecedores vão se desgastando e perdendo eficiência. Quando chega a hora de troca, aparecem alguns sinais de desgaste, incluindo ruídos metálicos, balanço excessivo da carroceria, perda de estabilidade em curvas e maiores distâncias de frenagem. Além disso, o vazamento de óleo pela haste é um indicativo comum de falha na vedação interna.
Outro sintoma possível é o desgaste irregular dos pneus, principalmente nas bordas, causado pelo contato irregular do componente com o solo. Para diagnosticar os amortecedores, é possível realizar testes práticos, como pressionar e soltar a carroceria procurando por balanço excessivo, além de fazer uma inspeção visual e testes em bancada.
Importância de utilizar amortecedores em bom estado no veículo
Ter amortecedores em bom estado no veículo é fundamental para a estabilidade e a segurança do automóvel. Um sistema de suspensão com amortecimento adequado garante frenagens mais curtas, maior aderência e menor desgaste dos pneus. Além disso, a dissipação da energia cinética dos impactos pelo amortecedor reduz o estresse estrutural sobre o chassi e demais componentes da suspensão.
Segundo testes realizados pela Federal Highway Administration (2017) [4], veículos com amortecedores sem ação podem aumentar em até 20% a distância de frenagem em piso molhado, demonstrando a importância da substituição preventiva desse componente.
Além desses fatores, ignorar os sinais de problemas nos amortecedores pode levar ao comprometimento de outros componentes da suspensão, como buchas, pivôs, batentes e molas, além de aumentar o risco de perda de controle em situações de emergência.
Amortecedor original ou remanufaturado?
Na hora da troca do amortecedor, o mecânico e o proprietário podem ficar em dúvida entre usar peças novas ou remanufaturadas. O uso de amortecedores remanufaturados, embora seja mais barato, apresenta riscos consideráveis. Muitas vezes, esses componentes passam por processos de recondicionamento sem controle rigoroso de qualidade, o que altera a calibração hidráulica original. Essa diferença pode comprometer o equilíbrio dinâmico do veículo, causando um comportamento imprevisível em curvas e frenagens.
Além disso, testes realizados em amortecedores remanufaturados segundo a Norma ABNT NBR 13308 [5] mostraram que a vida útil dos modelos recondicionados é menor, sofrendo maior corrosão e até rompimento das vedações de maneira prematura em relação a peças novas.
Outro ponto crítico é a variação de desempenho entre peças recondicionadas do mesmo lote. Pequenas diferenças na viscosidade ou quantidade do fluido, na montagem ou especificação das vedações ou no ajuste das válvulas podem gerar comportamento desigual entre os eixos, aumentando o risco de instabilidade direcional, mesmo usando o mesmo tipo de amortecedor remanufaturado em ambas as rodas.
Por fim, há ainda risco estrutural, visto que os corpos e hastes reutilizados podem apresentar microfissuras não visíveis a olho nu, que podem evoluir para falhas graves quando submetidas a esforços durante o uso do veículo. Assim, do ponto de vista técnico e de segurança o uso de amortecedores novos, seguindo a recomendação da montadora, ainda é a opção mais indicada.
Em conclusão, o amortecedor é um dos componentes mais importantes da suspensão do veículo, e seu correto funcionamento garante não só estabilidade e segurança, mas também conforto para os ocupantes. Dessa forma, compreender o funcionamento, tipos e características dos amortecedores é fundamental para que o mecânico efetue uma manutenção correta e efetiva.
[1] BENDER, E.; SCHRAMM, D. The Influence of Damping Characteristics on Vehicle Stability. SAE Technical Paper 1999-01-0645. Warrendale: Society of Automotive Engineers, 1999.
[2] SOCIETY OF AUTOMOTIVE ENGINEERS (SAE). Automotive Suspension Systems Design and Analysis Manual. SAE International, Warrendale, 2015.
[3] Hamedi, B., Shrikanthan, S., & Taheri, S. The Reduced-Order Modeling Approach for a Double-Damper Concept: A Comparison with a Single Damper for Comfort Analysis. Vibration, 7(3), 644-661, 2024.
[4] FEDERAL HIGHWAY ADMINISTRATION (FHWA). Vehicle Suspension and Handling Dynamics: The Effect of Damping on Road Safety. Washington, D.C.: U.S. Department of Transportation, 2017.
[5] PISANU, L.; GUARIEIRO, L. L. N.; SOARES, A. B. J.; BARRETO, M. O.; REZENDE, R. F.; TURRINI, J. R. Avaliação de Amortecedores Veiculares Remanufaturados Segundo Alguns Critérios da Norma ABNT NBR 13308. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE ENGENHARIA AUTOMOTIVA, 21., 2014.
The post A evolução e a função dos amortecedores: tecnologia, funcionamento e riscos appeared first on Revista O Mecânico.
A evolução e a função dos amortecedores: tecnologia, funcionamento e riscos Publicado primeiro em http://omecanico.com.br/feed/







Nenhum comentário:
Postar um comentário