terça-feira, 2 de dezembro de 2025

RAIO X: GAC AION Y Novo Crossover Chinês

Confira os aspectos de manutenção e os detalhes do SUV elétrico chinês 

texto Vitor Lima   fotos Diego Cesilio / Divulgação GAC 

 

A chegada da marca GAC ao Brasil inaugura um novo capítulo no setor automotivo nacional. Fundada em 1998, a Guangzhou Automobile Group iniciou sua trajetória com parcerias estratégicas com Honda e Toyota, chegando a produzir modelos dessas montadoras em solo chinês. Hoje, porém, vive uma nova fase e apresenta ao mercado global veículos próprios, com forte ambição tecnológica e foco absoluto na eletrificação. 

Entre esses novos produtos está o GAC Aion Y, um Crossover 100% elétrico voltado ao uso familiar e que, desde já, aponta para um futuro em que o aftermarket brasileiro terá de aprofundar conhecimento em sistemas de alta tensão, baterias de última geração e novos conceitos de manutenção. 

A Revista O Mecânico realizou um Raio X exclusivo no Aion Y, um dos primeiros modelos da GAC a desembarcar no país. Ele se posiciona como um SUV de porte médio, medindo 4.535 mm de comprimento, 1.870 mm de largura, 1.650 mm de altura e 2.750 mm de entre-eixos. Proporções que explicam o bom espaço interno e o apelo familiar, semelhante ao de veículos amplamente conhecidos, como o Chevrolet Spin. 

A carroceria tem design moderno e aerodinâmico, com superfícies mais fechadas, típicas dos elétricos dedicados à eficiência, não por acaso, o modelo apresenta um coeficiente de arrasto de 0,278 Cd, contribuindo para maximizar sua autonomia. 

No conjunto elétrico, o Aion Y utiliza uma bateria LFP (fosfato de ferro-lítio) de 63,2 kWh. A autonomia declarada segue dois padrões: 318 km conforme o Inmetro e 490 km pelo ciclo chinês NEDC. Para recargas rápidas, o SUV aceita até 75 kW em carregadores de corrente contínua (DC). 

Por dentro, o Aion Y reforça sua proposta familiar e traz um painel digital de 10,25 polegadas e uma central multimídia de 14,6 polegadas, que concentram grande parte dos comandos do veículo. As versões internacionais utilizam revestimento PVC-leather nos assentos, e há itens como ar-condicionado automático com saídas traseiras, carregamento de smartphone por indução (nas versões mais completas) e volante multifuncional. 

Em segurança ativa, o pacote ADAS da versão Elite inclui alerta de colisão frontal (FCW), frenagem autônoma de emergência (AEB), assistente e alerta de permanência em faixa (LKA e LDW), controle de cruzeiro adaptativo (ACC), assistente de congestionamento (TJA) e piloto automático integrado (ICA). 

Externamente, o modelo chama atenção pelos faróis full LED com assinatura “Angel Wing”, maçanetas retráteis, retrovisores elétricos com aquecimento e rodas de liga leve, cujos desenhos variam conforme a versão. 

Para aprofundar a análise técnica, convidamos Maurício Marcelino, professor do SENAI e proprietário da Auto Mecânica Louricar LM. Ele avaliou os sistemas de propulsão elétrica, gerenciamento térmico, suspensão e freios, destacando os pontos cruciais que o mecânico brasileiro precisa compreender para realizar manutenção preventiva e corretiva em um elétrico de nova geração. 

Com preço inicial de R$ 175.990, o GAC Aion Y chega ao Brasil não apenas como um novo produto, mas como um sinal claro de que o setor de manutenção precisará evoluir junto com a eletrificação, estudando novos sistemas, novas rotinas de diagnóstico e novas exigências de segurança. 

 

Capô Aberto 

Ao abrir o capô, nota-se um compartimento dianteiro praticamente isolado (1). O proprietário tem acesso apenas ao reservatório de água do limpador de para-brisa. Todos os demais componentes são de alta tensão, devidamente sinalizados por etiquetas e cabos na cor laranja, marcadores indispensáveis que alertam o mecânico para a necessidade de equipamentos adequados e treinamento específico antes de qualquer intervenção.  

Um detalhe técnico interessante é o sistema de arrefecimento dividido em três reservatórios distintos, solução incomum e que exige atenção do mecânico. São três circuitos independentes. O primeiro dedicado ao motor elétrico e ao inversor (2); o segundo, exclusivo para o controle térmico da bateria de tração (3); e o terceiro responsável pelo aquecimento do habitáculo (4), alimentado por um aquecedor elétrico próprio. “A separação é necessária porque cada conjunto trabalha em faixas de temperatura distintas, garantindo maior durabilidade e eficiência operacional”, comenta Marcelino.  

O inversor, uma caixa metálica quadrada visível no cofre (5), é o componente eletrônico responsável por converter a corrente contínua (DC) da bateria em corrente alternada (AC) para o motor elétrico. Essa conversão permite o controle preciso da potência entregue e garante alta eficiência ao conjunto. Enquanto um motor a combustão dificilmente supera 35% de eficiência energética, sistemas elétricos ultrapassam a marca de 80%, e motores elétricos podem chegar próximos a 97% de eficiência.  

Para garantir o controle térmico adequado, o Aion Y utiliza um radiador robusto (6), semelhante em tamanho a uma caixa evaporadora de ar-condicionado. A dissipação eficiente de calor é essencial para preservar a durabilidade dos componentes eletrônicos de potência. Além disso, o carro conta com uma bateria auxiliar (7) de 12 volts de 45 Ah, responsável por alimentar módulos eletrônicos, sistemas de iluminação, sinalização e comando. Mesmo sendo pequena, essa bateria é fundamental “sem ela, o sistema de gerenciamento eletrônico não inicia, e o veículo não liga”, pontua Marcelino.  

 

Undercar 

Na parte inferior, é possível identificar o compressor elétrico do ar-condicionado (8) e uma bomba d’água elétrica (9) de 12 volts. O compressor do ar-condicionado, por sua vez, é alimentado diretamente pela bateria principal de alta tensão. Esse conjunto elimina correias e acionamentos mecânicos, tornando o sistema mais limpo e silencioso.  

A suspensão dianteira do Aion Y utiliza bandejas de aço reforçadas, demonstrando preocupação com resistência estrutural. O pivô é parafusado (10), o que permite sua substituição isolada, solução prática e que reduz custos de manutenção.  

As bieletas (11) utilizam haste metálica e articulações em composto de nylon, combinando leveza e durabilidade. A direção segue o padrão de caixa elétrica com terminal fixado na manga de eixo, que, por sua vez, é robusta e sustenta pinças de freio deslizantes de grandes dimensões. 12_26 

Mesmo em um veículo elétrico, permanecem itens tradicionais de manutenção, como as coifas das juntas homocinéticas, que sofrem desgaste e ressecamento ao longo do tempo. “É importante lembrar que períodos de férias, como janeiro e julho, registram aumento na substituição dessas peças devido ao contato acidental com materiais cortantes em vias públicas”, alerta Marcelino, pois é um detalhe curioso e relevante para oficinas. 

Na traseira, o Aion Y traz um sistema de suspensão semi-independente com eixo de torção, molas helicoidais e amortecedores tubulares convencionais (12). A fixação superior dos amortecedores é externa, facilitando futuras substituições e reduzindo o tempo de serviço, uma vantagem significativa frente a modelos que exigem desmontagem de laterais internas para o mesmo tipo de reparo.  

A bateria principal (13) é do tipo LFP (Lítio Ferro Fosfato), tecnologia reconhecida pela durabilidade, estabilidade térmica e segurança. Com capacidade de 63 kWh e peso aproximado de 446 kg, ocupa toda a parte inferior do veículo e integra a estrutura do chassi. A autonomia declarada pelo Inmetro é de 318 km, mas em uso urbano pode chegar a até 420 km. O tempo de recarga varia de acordo com o carregador, cerca de 7 a 8 horas em Wallbox residencial de 11 kW e menos de uma hora em carregadores rápidos de 75 kW. Em termos de custo, uma recarga completa consome aproximadamente R$ 63 em energia elétrica, a título comparativo é cerca de um terço do gasto com etanol para percorrer a mesma distância.  

O porta-malas abre eletricamente e mantém boa área útil, ainda que o piso seja um pouco mais alto por conta da bateria. O veículo não traz estepe, apenas um kit de reparo de pneus (14), prática comum na Europa, mas ainda discutível para as condições brasileiras.  

Durante a análise de manutenção, um ponto de atenção foi a substituição dos amortecedores dianteiros. Para acessar o conjunto, é necessário desmontar parte da churrasqueira plástica do cofre. Em veículos novos, o material é flexível e tolera a remoção, mas com o tempo tende a ressecar. O mecânico deve orientar o cliente sobre o risco de trincas ou quebras dessas peças, evitando conflitos posteriores. Na traseira, ao contrário, a substituição é simples e prática. 

O sistema de freio segue o padrão convencional, com cilindro mestre, servo freio e bomba de vácuo, uma solução curiosa para um veículo totalmente elétrico, já que muitos EVs recentes utilizam sistemas eletro-hidráulicos. As pinças traseiras possuem acionamento elétrico (EPB), exigindo scanner para o serviço de pastilhas. 

De modo geral, o GAC Aion Y demonstra uma engenharia coerente e prática. A manutenção é acessível, os componentes seguem uma lógica clara de montagem e o projeto equilibra tecnologia e simplicidade. É um veículo que traz o futuro da eletrificação sem afastar o mecânico independente, permitindo que oficinas tradicionais possam se adaptar com tranquilidade a essa nova realidade. 

O Aion Y reforça que os carros elétricos podem, sim, unir inovação e manutenção racional, combinação que, em breve, fará parte da rotina diária das oficinas brasileiras. 

The post RAIO X: GAC AION Y Novo Crossover Chinês appeared first on Revista O Mecânico.


RAIO X: GAC AION Y Novo Crossover Chinês Publicado primeiro em http://omecanico.com.br/feed/

Nenhum comentário:

Postar um comentário