Confira como fazer o diagnóstico e o procedimento de troca das juntas homocinéticas fixas e deslizantes do Chevrolet Celta 2011
Elementos fundamentais para o correto funcionamento dos sistemas de tração e direção dos veículos, as juntas homocinéticas costumam ser lembradas somente no momento em que apresentam defeito. E isso pode se manifestar, principalmente, na forma de estalos ao conduzir ou esterçar o veículo.
É um dos sinais apresentados pelo carro utilizado nesta reportagem, um Chevrolet Celta 1.0 2011. “O cliente relatou que escutava alguns estalos na condução do veículo, tanto nas trocas de marcha, como nas manobras”, afirma o consultor técnico da SKF, Marcelo Nunes. Após o teste de rodagem e a inspeção visual do estado das coifas, foi possível chegar ao diagnóstico de necessidade de substituição das juntas homocinéticas, tanto do lado câmbio (junta fixa), quanto do lado roda (junta deslizante), do lado do motorista.
Para evitar o desgaste excessivo da peça, é recomendada a inspeção periódica do estado das coifas. “Caso as coifas estejam danificadas, haverá contaminação do componente, acentuando o desgaste nas juntas homocinéticas. Foi essa a causa dos estalos neste veículo”, explica Nunes. De acordo com a SKF, entre os principais problemas que podem danificar as juntas homocinéticas são a falha de lubrificação, a alteração do conjunto roda e pneus (off-set de roda ou alteração de aro) e a condução de forma “severa”, que provoque o aumento de forças em condições extremas.
Para aumentar a durabilidade dos componentes, os fabricantes têm investido na evolução dos processos de desenvolvimento. “Mesmo com motores cada vez menores, a entrega de torque e potência dos carros atuais é maior. Por isso, os materiais das juntas homocinéticas evoluíram nos últimos anos, desde a pureza do aço até o tratamento térmico, a fim de elevar a vida útil das peças”, explica o engenheiro de Desenvolvimento de Produto da SKF, Helber Antonio.
Ainda assim, de acordo com o profissional, é difícil estimar a vida útil da junta homocinética em função de quilometragem ou tempo. “Não há um prazo ou quilometragem estipulada, pois há variáveis como o modo de direção e a frequência de utilização do veículo, entre outros. O que recomendamos é a realização de inspeção a cada manutenção preventiva, buscando por sinais de coifa danificada e avarias no conjunto”, explica Helber Antonio.
Na visão do professor de Engenharia Mecânica da FMU e consultor técnico da Revista O Mecânico, Fernando Landulfo, é importante a realização da manutenção preventiva do componente. “A vida útil das juntas homocinéticas também está diretamente ligada à conservação das coifas e à troca periódica da graxa”, analisa. No Celta desta reportagem, foram substituídas as juntas homocinéticas do lado do câmbio (deslizante) e do lado roda (fixa).
DIAGNÓSTICO E DESMONTAGEM
1) Para iniciar o diagnóstico, é essencial fazer uma avaliação geral da suspensão como um todo. Procure por folgas nos componentes e por possíveis itens danificados. No semieixo em si, a maneira mais adequada de fazer a verificação é segurar pelas homocinéticas e fazer os movimentos axial (para frente e para trás) e radial (torção). “Se nesse movimento existir uma folga excessiva, é um indício de que o componente precisa ser substituído. É nessa existência da folga que surge o ruído”, explica Marcelo Nunes.
2) Além das folgas, é importante checar o estado geral das coifas, tanto do lado do câmbio, como do lado da roda. Neste carro, como há rasgos, é imprescindível que as coifas sejam substituídas.
3) Para iniciar a remoção do semieixo, solte a porca central da homocinética com um soquete de 28 mm.
4) Em seguida, solte o terminal com o auxílio de uma ferramenta especial (extrator de terminal) para não danificar a manga de eixo.
5) Utilize uma chave 17 mm para remover a porca do terminal de direção.
6) Ao retirar o terminal de direção, verificou-se que a coifa do terminal estava danificada. Neste caso, o terminal também deve ser substituído.
7) Para soltar o parafuso de fixação do pivô da manga de eixo, utilize as chaves estriadas 14 mm e 17 mm.
8) Utilize uma espátula metálica apoiada no quadro de suspensão para fazer o movimento de alavanca e afastar o pivô da manga de eixo.
9) Afaste a extremidade do semieixo do lado roda.
10) Ao remover o semieixo do câmbio ocorre vazamento de óleo. Por isso, posicione o coletor de óleo abaixo do semieixo. Faça o movimento de alavanca para a remoção do semieixo, atentando-se ao correto alinhamento que facilitará a remoção.
11) Remova o semieixo do veículo.
NA BANCADA
12) Com o semieixo fixado à morsa, retire a abraçadeira do sino da junta homocinética fixa com o auxílio de uma chave de fenda e um alicate para soltar a trava.
13) Faça o mesmo procedimento com a abraçadeira da coifa do lado do semieixo.
14) Solte e desloque a coifa para baixo.
15) Com um pano, remova o excesso de graxa.
16) Localize a trava externa da junta homocinética.
17) Com o auxílio de um alicate, solte a trava da junta homocinética.
18) Retire a junta homocinética e a coifa antiga.
19) Limpe o semieixo e faça uma verificação do estado das estrias e do canal da trava da homocinética.
20) Neste Chevrolet Celta 2011 foi utilizado o kit VKJA 41000 A, da SKF, que já inclui a homocinética fixa com porca, coifa, abraçadeiras, graxa de bissulfeto de molibdênio e manual de montagem. Utilize todos os novos componentes do kit.
21) Antes de iniciar a montagem da nova homocinética, proteja a extremidade do semieixo com uma fita a fim de evitar rasgos causados pelas estrias no momento da instalação da coifa.
22) Instale a nova coifa no semieixo e retira a fita utilizada para proteção.
23) Faça a lubrificação da junta homocinética com a graxa de bissulfeto de molibdênio.
24) Introduza a junta homocinética no semieixo, observando e certificando-se do correto travamento.
25) Aplique o restante da graxa diretamente no interior da coifa. “A graxa é um elemento que auxilia na vedação e proteção da homocinética”, ressalta o consultor técnico da SKF.
26) Encaixe a coifa e instale as abraçadeiras, que são do tipo cinta fitada. Utilize a ferramenta especial VKN 400 A (ou VKN 401 A), que é um alicate que auxilia no corte da fita. Comece pela abraçadeira do lado do semieixo. Ao fixar a cinta, evite apertar em excesso para não danificar a coifa e provocar vazamentos. Também é importante se atentar ao dobramento da cinta antes do corte para que ela não escape.
27) Tomando o mesmo cuidado, repita o procedimento do passo anterior com a abraçadeira do lado do sino da junta homocinética.
28) Terminada a montagem da homocinética do lado roda, vire o semieixo na morsa para a montagem do lado câmbio. Comece soltando as abraçadeiras.
29) Afaste a coifa.
30) Retire o excesso de graxa com um pano.
31) Localize a trava. Com um alicate, solte a trava e remova a homocinética.
32) Limpe o semieixo com um pano.
33) Analise as estrias e o estado geral do semieixo do lado do câmbio. Caso haja alguma irregularidade, a indicação é a substituição do semieixo por um novo.
34) No lado câmbio, foi utilizado o kit VKJA 48001 A, que inclui a junta homocinética deslizante, coifa, abraçadeiras, graxa de bissulfeto de molibdênio e manual de montagem.
35) Proteja a extremidade do semieixo a fim de evitar danificar a coifa.
36) Instale a coifa nova, retire a proteção e lubrifique a homocinética com a graxa que acompanha o kit SKF.
37) Instale a nova homocinética e aplique a graxa na coifa.
38) Instale as abraçadeiras, começando pelo lado do semieixo e, depois, do sino. Como no passo 26, utilize o alicate especial para o corte da fita.
MONTAGEM
O procedimento de montagem do semieixo no veículo segue o inverso da desmontagem, desde que observados os seguintes pontos:
39) Lubrifique a extremidade da homocinética do lado câmbio com o óleo recomendado pelo fabricante do veículo e observe o correto alinhamento do eixo para montagem.
40) O torque de aperto do terminal de direção é de 44 Nm.
41) O torque de aperto da porca de fixação do pivô é de 31,5 Nm.
42) Para aplicar o torque final da porca central da homocinética, reinstale a roda e abaixe o veículo totalmente. Com as quatro rodas apoiadas no solo, aplique o torque da porca autotravante do cubo de roda com 60 Nm + torque angular de 70°.
43) Eleve o veículo novamente para a instalação da calota. Observe sempre a posição correta de montagem para deixar aparente a válvula de calibragem do pneu.
44) Com o veículo no solo novamente, aplique o torque indicado (110 Nm) para os parafusos das rodas. Como neste caso foi realizada a troca do terminal de direção, é importante realizar o alinhamento antes da entrega do veículo ao cliente.
Texto Gustavo de Sá
Fotos Gustavo de Sá & Lucas Porto
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