Mudança depende de estudos de compatibilidade veicular e desempenho em motores não flex
Texto: Marcos Camargo
O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), defendeu o aumento do percentual de etanol anidro na gasolina de 30% para 35% durante a 25ª Conferência Internacional sobre Açúcar e Etanol, promovida pela Datagro em São Paulo (SP). A proposta retoma a pauta de fortalecimento da indústria de biocombustíveis e está amparada pela Lei do Combustível do Futuro, aprovada em 2024, que autoriza a elevação da mistura até esse limite mediante comprovação de viabilidade técnica.
“Hoje nós já temos 30% da mistura da gasolina com etanol e vamos lutar para que avancemos aos 35%, o que fortalecerá ainda mais a indústria de biocombustíveis do nosso país”, afirmou Motta.
Avaliação técnica e compatibilidade da frota
O avanço para 35% depende de testes de compatibilidade de motores, já que a frota nacional tem idade média de 11 anos e muitos veículos ainda não são bicombustíveis (flex). Motores produzidos antes da popularização dessa tecnologia foram projetados para operar com gasolina contendo teores menores de etanol (em torno de 22% a 25%), o que pode alterar parâmetros de combustão, partida a frio e desgaste de componentes como válvulas, sedes e sistemas de alimentação.
A Lei do Combustível do Futuro permite que a mistura de etanol na gasolina comum atinja até 35%, desde que ensaios de durabilidade e emissões comprovem que a mudança não compromete o funcionamento e a vida útil dos motores.
Resultados práticos e impacto econômico
A mistura atual de 30% foi aprovada pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) em junho de 2024, acompanhada do aumento do teor de biodiesel de 14% para 15%. A justificativa oficial envolvia a redução de emissões de CO₂ e potencial queda nos preços ao consumidor final.
No entanto, dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) mostram que o efeito sobre os preços foi praticamente nulo: o litro da gasolina passou de R$ 6,22 em junho para R$ 6,21 em outubro, enquanto a previsão inicial era de uma redução de até R$ 0,20 por litro.
Preocupações do setor automotivo
Especialistas e entidades do setor alertam para riscos de elevar a proporção de etanol sem ajustes técnicos adequados. Veículos importados, monocombustíveis e modelos antigos podem apresentar problemas de partida, falhas de combustão, aumento no consumo e degradação prematura de componentes metálicos e polímeros expostos ao etanol.
Em contrapartida, o governo afirma que os estudos conduzidos até o momento indicam ausência de danos significativos. Segundo o Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), foram realizados ensaios laboratoriais e de pista com 16 veículos leves e 13 motocicletas, abrangendo motores de alta compressão e modelos não flex. O resultado preliminar apontou compatibilidade satisfatória dentro dos limites de operação e emissões estabelecidos pelo Proconve L8.
Perspectiva técnica e industrial
O aumento para 35% de etanol anidro pode representar um avanço estratégico para a matriz energética brasileira, reduzindo a dependência de gasolina fóssil e fortalecendo a cadeia sucroenergética. Contudo, o desafio está em assegurar a estabilidade da combustão e a durabilidade dos motores, especialmente em veículos sem calibração flex.
A decisão final sobre o novo percentual dependerá de validação técnica conclusiva por parte do MME, da ANP e de centros de pesquisa automotiva, com acompanhamento direto de montadoras e entidades do setor de manutenção e reparação automotiva.
The post Câmara estuda elevar mistura de etanol na gasolina para 35% — proposta exige validação técnica appeared first on Revista O Mecânico.
Câmara estuda elevar mistura de etanol na gasolina para 35% — proposta exige validação técnica Publicado primeiro em http://omecanico.com.br/feed/
Nenhum comentário:
Postar um comentário