A evolução das transmissões automáticas nos últimos anos trouxe ganhos expressivos em conforto, eficiência energética e durabilidade, mas também tornou o papel do fluido interno muito mais crítico. Ulisses Miguel comenta “a lubrificação reduz o atrito entre os componentes móveis, evita o desgaste prematuro e garante uma operação suave e eficiente”. Hoje, o óleo não é apenas um lubrificante, ele se tornou um componente funcional, responsável pelo acionamento, refrigeração, controle hidráulico e transmissão de torque. Qualquer falha na qualidade ou degradação do fluido pode alterar o comportamento do câmbio, impactando pressão, resposta dos solenoides, acoplamento das embreagens e até a lógica de controle eletrônico.
Nas transmissões automáticas tradicionais, o ATF cumpre funções essenciais: forma filme lubrificante nas engrenagens planetárias e rolamentos, aciona hidráulicamente os conjuntos de embreagens e refrigera o conversor de torque e os componentes internos. O Ulisses ressalta que “quando a manutenção é feita corretamente, a embreagem dura muito, igual a embreagem de moto, porque é banhada a óleo”. Quando a viscosidade ou os aditivos se deterioram, há perda de pressão, retardamento do enchimento dos pistões e patinação dos discos, causando engates ásperos, trocas lentas e trancos, principalmente em altas temperaturas. O fluido degrada-se antes mesmo de qualquer desgaste mecânico perceptível, um detalhe que muitos profissionais ainda subestimam.
Nas transmissões CVT, o fluido desempenha papel ainda mais crítico, pois atua diretamente na transferência de torque entre polias e correia ou corrente. “Se eu misturar fluido velho com novo, vou alterar a viscosidade e as propriedades de atrito”, alerta o Ulisses. Pequenas alterações no fluido podem comprometer a pressão hidráulica, causar vibrações e gerar patinação sob carga, além de provocar superaquecimento. Por isso, transmissões CVT negligenciadas tendem a apresentar falhas mesmo antes de qualquer desgaste físico visível.
Nas transmissões de dupla embreagem (DCT), a função do fluido é igualmente estratégica. Nas DCT banhadas em óleo, ele garante estabilidade térmica, modulação precisa do acoplamento, dissipação de calor e longevidade das embreagens. Nas DCT secas, o fluido é essencial para lubrificar a caixa e os sincronizadores. O profissional explica: “quando a viscosidade do meu ATF não confere, o controle eletrônico não funciona corretamente, causando patinação nas embreagens e danificando o sistema”. Em ambos os casos, a degradação do fluido prejudica diretamente a operação, pois a TCU assume que a resposta hidráulica será previsível. Quando isso não ocorre, aumenta a pressão e acelera a fadiga mecânica.
É importante lembrar que o fluido raramente desaparece antes de causar danos; ele perde funcionalidade primeiro. Entre os efeitos da degradação estão a alteração do coeficiente de atrito, queda de viscosidade em altas temperaturas, oxidação, aumento da temperatura operacional e contaminação por partículas metálicas. “O maior erro nas transmissões atuais não é a falha mecânica: é a normalização do fluido degradado como se ainda fosse apenas lubrificante”, reforça o Ulisses. Ele alerta que o fluido é um componente funcional, não apenas um meio de proteção passiva, e que negligenciá-lo compromete seriamente a durabilidade do câmbio.
O alerta é claro: as transmissões modernas avisam sobre seu estado pelo fluido antes de apresentar sinais mecânicos. Ignorar essas informações é comprometer a vida útil do conjunto e gerar reparos prematuros e custosos. Como reforça o Ulisses, “a lubrificação adequada e a troca periódica do fluido são fundamentais para que o câmbio funcione adequadamente e dure por muitos anos”. Essa é uma mensagem que todo mecânico precisa internalizar para aplicar na oficina: interpretar o fluido, agir preventivamente e garantir que o sistema funcione dentro das especificações do fabricante é a diferença entre uma transmissão que sobrevive à sua vida útil projetada e uma que apresenta falhas prematuras.
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