Importado da China para competir com o Jeep Compass, SUV possui trem de força e reparabilidade inéditos na linha Ford para o Brasil
O segmento de SUVs é, sem dúvidas, o que mais cresce no mercado brasileiro. Com isso, todas as fabricantes estão em busca de ampliar a oferta de produtos – uma delas é a Ford, que já anunciou o plano de focar os próximos lançamentos exclusivamente em utilitários esportivos e picapes. E o primeiro passo da investida da marca é o Territory, de porte médio e com posicionamento que mira o Jeep Compass, líder da categoria.
A novidade da Ford é, na verdade, baseada no SUV chinês JMC Yusheng S330 – a fabricação de ambos fica a cargo da própria JMC, em Xiaolan, na China. Para o modelo vendido no Brasil, entretanto, foram feitas modificações nas buchas da suspensão e amortecedores, além de pneus mais silenciosos (Goodyear Assurance Fuel Max AN 235/50R18) e reforço no isolamento acústico. Segundo a Ford, o desenvolvimento do Territory incluiu 100 mil quilômetros de testes de rodagem e 10 mil horas de validações em laboratórios e campos de provas no Brasil.
O motor do SUV Ford é 1.5 4-cilindros turbo da família EcoBoost, com injeção direta de combustível, intercooler e comando de válvulas variável com acionamento por corrente. Movido somente a gasolina, entrega 150 cv de potência a 5.300 rpm e 22,9 kgfm de torque entre 1.500 e 4.000 rpm. Este motor opera no ciclo Miller, onde a fase de expansão é mais prolongada que a da compressão, a fim de aumentar a eficiência energética.
O câmbio do Ford é automático do tipo CVT (fornecido pela empresa Punch Powertrain), com simulação de oito marchas e tração sempre dianteira. O modelo chega ao mercado em setembro, em duas versões: SEL (R$ 165.900) e Titanium (R$ 187.900). Desde a série de entrada, há faróis em LED, teto solar panorâmico, central multimídia de 10,1 polegadas, controles de estabilidade e tração, assistente de saída em rampas, 6 airbags e chave presencial. A topo de linha acrescenta frenagem autônoma de emergência, controle de cruzeiro adaptativo, carregamento de celular por indução, bancos em couro claro com aquecimento e ventilação nos dianteiros e sensor de
chuva, entre outros.
Para avaliar as condições de reparabilidade do lançamento da Ford, levamos o Territory até a oficina Mingau Automobilística, em Suzano/SP, onde foi avaliado pelo proprietário e mecânico Edson Roberto de Ávila, o Mingau.
COFRE DO MOTOR
O capô possui sensor analógico, que detecta se a peça está aberta e emite um alerta ao motorista no painel. Ao erguer o capô, uma surpresa: o cofre é totalmente coberto por um acabamento plástico acima de todos os componentes do motor (1).
Para remover as proteções plásticas, que são presas por parafusos de mesmo material, é necessário cautela. “O mais indicado é utilizar espátulas de nylon (2), e nunca optar pela chave de fenda para a remoção deste tipo de fixação plástica”, explica Mingau.
Ao todo, a carenagem principal é fixada por 6 parafusos plásticos e 5 presilhas do mesmo tipo. Sobre o uso dos componentes e grampos plásticos, a Ford esclarece que “estes materiais são testados e validados para esta aplicação e não requerem troca ou substituição periódica. São peças, inclusive, usadas em outros mercados e no Territory comercializado na China”.
Removidas as proteções, é possível ter melhor acesso aos componentes para manutenção. O primeiro aspecto notado pelo mecânico é o tipo de fixação das peças. “A resistência da velocidade do sistema de ventilação forçada (eletroventilador) é fixada por abraçadeira de metal do tipo universal (3)”, aponta Mingau. A opção da fabricante pode ser justificada pela necessidade de resistência a altas temperaturas (que podem comprometer a durabilidade do plástico, que é mais comum na região).
No veículo de teste cedido pela Ford para avaliação antes do lançamento, as emendas das tubulações e chicotes estavam feitas com fita isolante comum (4), o que Mingau estranhou. “Na minha opinião, fitas de tecido seriam melhor opção”, afirmou, apontando que assim haveria melhor reforço e proteção, a fim de evitar calor, atrito ou contato com partes da carroceria.
Os chicotes dos sensores do ABS também estavam revestidos com fita isolante comum e o chicote da segunda sonda lambda (5) pareceu excessivamente exposto embaixo do carro. Segundo a Ford, a unidade avaliada pela Revista O Mecânico é um modelo pré-série (antes da produção final) e que este tipo de acabamento não estará nos carros vendidos ao consumidor final.
O variador de fase possui tampa única (6), o que, segundo Mingau, dificulta a manutenção. A remoção dos bicos injetores também exige mais etapas e, consequentemente, tempo de trabalho. “Para remover os bicos, é preciso retirar primeiro o corpo de aceleração, o gerador de energia (alternador) e até mesmo o coletor de admissão”, explica Mingau.
Por outro lado, o filtro de ar do motor (7) possui fácil acesso, sem dificuldades na hora da substituição – recomendada a cada 40 mil quilômetros. “Os parafusos de fixação possuem limitador de soltura, do tipo imperdíveis. Ponto positivo”, analisa o mecânico. A caixa dos maxifusíveis fica logo abaixo do alojamento do filtro de ar. A unidade de comando do ABS/ESC fica localizada abaixo da bateria, exigindo a remoção desta no caso de reparo no módulo.
A correia auxiliar de acessórios (8) possui fácil acesso, com remoção pela parte superior do cofre. Segundo Mingau, a correia não é do tipo elástica. Já a manutenção do compressor do ar-condicionado deve ser feita por baixo do carro. Também na parte mais baixa fica o trocador de calor do fluido da transmissão.
Por falar na caixa CVT (9), o manual do proprietário indica que a primeira troca de óleo e filtro do câmbio deve ser realizada aos 40 mil quilômetros. A partir de então, o intervalo de manutenção destes itens passa a ser a cada 100 mil quilômetros. A capacidade de enchimento do fluído deste câmbio é de 7,13 litros, de especificação Idemitsu PN-3H.
A substituição de velas e bobinas não tem segredos – o Territory utiliza velas de irídio (10), fornecidas pela NGK, com o código ILKR7L. As velas têm indicação de primeira troca aos 40 mil quilômetros, de acordo com o manual de manutenção. Após este período, o intervalo passa a ser a cada 60 mil quilômetros ou 24 meses.
Na opinião de Mingau, o fato de o motor 1.5 turbo não ser flex (11) é um ponto negativo. “Isso pode tornar o motor mais sensível à gasolina adulterada, que acaba recebendo maior teor de etanol”, diz Mingau. De acordo com a Ford, isso não ocorre. “O motor foi calibrado especificamente para o nosso combustível e também para atender o estilo e as expectativas dos brasileiros. Esse desenvolvimento incluiu mais de 2.200 horas de testes de validação e durabilidade, além de 300 horas de desmontagem e análise”, afirma a marca.
A remoção dos amortecedores dianteiros exige a desmontagem da peça conhecida como “churrasqueira”, na região do para-brisa, como é comum em diversos modelos. O filtro de óleo do motor possui fácil acesso, sendo possível a remoção pela parte superior, com o carro no chão. A substituição de óleo de motor e do respectivo filtro deve ser feita a cada 10 mil quilômetros ou 12 meses. A capacidade de enchimento do cárter (incluindo a troca do filtro) é de 4,4 litros (4,2 litros desconsiderando o filtro), com óleo de especificação SAE 5W-30.
O filtro de cabine (12) (também conhecido como antipólen ou de ar-condicionado) tem acesso pela parte posterior do porta-luvas, bastando a remoção de 2 parafusos com a chave philips. A recomendação da Ford é realizar a verificação do filtro de cabine a cada 10 mil quilômetros (e substituir, se necessário). A indicação para troca é a cada 20 mil quilômetros ou 24 meses.
UNDERCAR
Com o Territory no elevador, hora de conhecer as novidades na parte de baixo. O SUV possui suspensões independentes nos dois eixos, com arranjo McPherson no dianteiro e multibraço (13), no traseiro. Na visão de Mingau, amortecedores dianteiros e pivôs são simples de substituir. Ainda que tenha bom vão livre do solo, de 215 mm, o Territory não possui proposta off-road – como a maioria dos concorrentes do segmento. Na suspensão traseira, segundo o mecânico, não há marcas de referência para o ajuste da geometria. “Isso dificulta a regulagem do ângulo de câmber, que é a inclinação vertical da roda em relação ao eixo horizontal.
Neste carro, somente com equipamento digital, necessário para fazer a medição correta”, afirma Mingau. De acordo com a Ford, a suspensão traseira não possui ajuste do ângulo de câmber. Ponto que chamou a atenção do mecânico é a presença de pontos de oxidação (14) na fixação dos amortecedores e terminais de direção, incomuns para um veículo com quilometragem tão baixa – exatos 125 km no momento da avaliação.
O sistema de suspensão é construído com ferro fundido (mesmo material do bloco do motor). Neste caso, segundo a Ford, a corrosão apresentada é superficial e não compromete nenhuma função do veículo, sendo encontrada em “diversos produtos do mercado”. Para a manutenção da caixa de direção, é necessário baixar o quadro da suspensão dianteira. O conjunto de freios também não irá causar surpresa aos “guerreiros das oficinas”: as pastilhas são de fácil substituição, com pinos deslizantes e pistão simples. Há discos nas quatro rodas (sendo os dianteiros ventilados). Curiosamente, o diâmetro das peças frontais, de 292 mm, é menor que as traseiras (301,5 mm), de acordo com dados da ficha técnica e duplamente checado com a Engenharia da Ford pela Revista O Mecânico, dado o ineditismo das medidas.
O silencioso traseiro e o intermediário são de inox. O filtro de combustível (15) é localizado na parte central-traseira, de fácil acesso, e não exige nenhuma ferramenta especial para a troca. A Ford indica, no manual de manutenção, a inspeção visual e, se necessária, troca do filtro de combustível a cada 10 mil quilômetros. Já a substituição mandatória deve ser feita a cada 30 mil km ou 36 meses. A fixação do tanque de combustível é feita com parafusos de 6 mm.
A manutenção das luzes dos faróis de neblina (que são halógenas e, por isso, tendem a ter vida útil mais curta que a dos fachos principais, em LED) exige a remoção da proteção integrada à caixa de roda. Já a manutenção das luzes traseiras (16) é simples: a retirada da lanterna é feita com a soltura de dois parafusos, um pino centralizador e uma presilha lateral.
“No geral, a reparabilidade do Ford Territory não foge do contexto ao qual os mecânicos estão acostumados no dia a dia”, opina Mingau. Os sistemas de freio e suspensão são os pontos de destaque eleitos pelo mecânico. Porém, por ser uma unidade pré-série passou ao mecânico a impressão de que alguns componentes não teriam a robustez adequada – algo que no veículo de série, segundo a própria Ford, estará resolvido para o público final.
No cofre do motor, a análise final do mecânico é de que o acesso aos componentes em geral é difícil – fogem deste conceito apenas a correia de acessórios, velas e bobinas, todas bem localizadas. O uso de peças plásticas em diversos acabamentos exige cuidado redobrado por parte dos mecânicos. “Com o passar do tempo e quilometragem do carro, os componentes de fixação plásticos podem se partir. Uma dica é utilizar um soprador térmico (com cuidado para não derreter as peças) antes da remoção”, recomenda Mingau.
Texto Gustavo de Sá
Fotos Fernando Lalli
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