Com os veículos evoluindo em função das necessidades ambientais e do desejo dos consumidores, já virou rotina para o mecânico se atualizar constantemente às novidades tecnológicas
Que a tecnologia evolui em função da necessidade, todo mundo sabe. E quem define a necessidade? O consumidor, é claro, cujo coletivo aqui chamaremos de população. Mudanças no panorama econômico e político, nacional ou internacional, sempre acabam por tirar um governo, ou uma parcela representativa dos elementos de uma população da sua zona de conforto.
Resultado: reivindicações que estimulam evoluções tecnológicas, que levam o governo e/ou a parcela da população incomodada de volta a sua zona de conforto. Um ciclo que sempre se repete, porém com diferentes motivações.
Quem tem mais de 50 anos, teve a oportunidade de testemunhar algumas dessas evoluções no setor automotivo brasileiro. Sobretudo nos motores. A primeira delas foi a utilização do etanol como combustível, lá no final dos anos 70, com o Proálcool. Um programa governamental, desenvolvido para diminuir a dependência nacional do petróleo importado que, naquela ocasião, estava com o seu preço bastante elevado.
O mecânico teve que se adaptar à mudança? Claro que sim. Afinal de contas, a frota nacional foi inundada por veículos novos movidos a esse “novo” combustível, mas que nem sempre funcionavam perfeitamente. Isso sem falar no excelente negócio das conversões de motores. Foi uma verdadeira febre.
Mas como a tecnologia do motor a etanol era praticamente a mesma já conhecida e há anos trabalhada pelo mecânico, foi muito fácil ele se “moldar” a essa nova realidade e usufruir dos benefícios que ela trouxe.
Depois, no final dos anos 80, veio o gerenciamento eletrônico do motor (injeção eletrônica), com o objetivo de atender às regulamentações mais rígidas de emissões de poluentes. Uma evolução que forçou o “Guerreiro das Oficinas” não só a voltar ao “banco da escola” como a se reinventar.
Entraram em cena: a eletroeletrônica, assim como, os conceitos de controle automático e os sistemas digitais, que deixaram muito mecânico de “cabelo em pé” quando apareceram os primeiros carros. Isso sem falar numa nova ferramenta computadorizada chamada scanner que exigia a interpretação dos códigos de falha e parâmetros de funcionamento, que eram exibidos online.
Mas é claro que o mecânico tirou esse desafio de letra. Atualmente, pouquíssimos são os profissionais que não entendem plenamente o funcionamento da grande maioria dos sistemas. Alguns aprenderam inclusive como alterar as programações e os mapas de injeção e ignição para outros fins (preparação esportiva, por exemplo).
E o tempo foi passando e novas necessidades foram surgindo. O século XXI e as novas realidades (necessidades) trouxeram o motor flex e todos seus benefícios, assim como, os seus problemas que, por sinal, o mecânico também aprendeu rapidamente a solucionar, pois já domina a eletrônica digital, que é a alma desses sistemas.
A ÚLTIMA TENDÊNCIA: O “DOWNSIZING”
No final da primeira década do século XXI, junto com um apelo ecológico mais robusto, veio a necessidade da otimização do consumo. Em termos automotivos: os veículos precisam poluir muito menos, ocupar menos espaço, gastar menos combustível (mas sem renunciar ao desempenho) e exigir menos manutenção. E tudo isso com um preço competitivo.
Algo que, à primeira vista, parece impossível. Mas não é. Ou melhor, não está sendo. E as palavras mágicas que tornam tudo isso possível são: inovação e otimização. Tirar mais de menos.
Para atender a todas essas novas exigências, a engenharia de motores precisou “pensar fora da caixa”.
Afinal de contas, não é nada fácil projetar e construir motores (cujo princípio de funcionamento está em ciclos termodinâmicos de baixo rendimento) cada vez menores, mas que produzam a mesma potência de um similar maior, de funcionamento suave, consumindo menos combustível e emitindo menos poluentes. Eis o “downsizing”.
Fazer uso de novos conceitos como o ciclo Miller, resgatar antigos conceitos como a injeção direta (porém, atualizada com novos conceitos como a estratificação da pulverização), usar e abusar de superalimentação, são apenas algumas das soluções que vêm sendo aplicadas para atingir esse difícil objetivo.
Resultado: os motores downsizing estão aí, já frequentando as oficinas e trazendo junto com eles as suas exigências: tolerâncias metrológicas muito apertadas, correias banhadas a óleo, um ou até dois turbo alimentadores que exigem lubrificantes específicos e precisam ser trocados no momento certo.
Isso sem falar nos sistemas de arrefecimento sofisticados, com dois sistemas de circulação (duas válvulas termostáticas), que exigem fluidos especiais e procedimentos de manutenção específicos, blocos de motor cuja retífica não é recomendada pelo fabricante (assunto bastante polêmico e que está causando muita discussão no mercado) e muitas outras sofisticações, cada vez mais presentes nos motores de combustão modernos.
Acrescenta-se à lista os padrões de funcionamento específicos (vibrações e ruídos) que, no passado, poderiam ser considerados sintomas de mau funcionamento, mas que atualmente são normais em alguns modelos.
Também precisam ser mencionadas as trações híbridas e elétricas que, apesar do preço ainda elevado, aumentam em quantidade na frota nacional a cada ano. E que já frequentam algumas oficinas, trazendo as suas próprias exigências técnicas específicas.
Um conjunto de fatores que exige procedimentos de diagnóstico cada vez mais detalhados e apurados. Ou seja: maiores investimentos em treinamento, informação técnica e ferramental por parte do mecânico.
Mas o mercado é assim mesmo. E como o “Guerreiro das Oficinas” ama o seu trabalho, ele atende a todas essas exigências sem reclamar. Além do mais, quem não se atualizar acaba perdendo clientes. Algo intolerável nos dias atuais. Pois dinheiro não dá em árvores.
Artigo por Fernando Landulfo
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