terça-feira, 26 de agosto de 2025

Retífica de motores 3 cilindros: qual a opinião dos profissionais da área?

Entenda os processos de retífica e quais são os desafios para os 3 cilindros 

texto Vitor Lima  fotos Arquivo O Mecânico

A retífica de motores é um procedimento técnico de reparo e recondicionamento aplicado a motores de combustão interna. Seu objetivo é restaurar o desempenho original, corrigir falhas, prolongar a vida útil e garantir confiabilidade. No Brasil, todos os carros de entrada que respondem por mais de 50% das vendas utilizam motores três cilindros já bastante longevos e recorrentes nas oficinas. Na Renault a família SCe, os MPI e TSI da Volkswagen, Chevrolet Ecotec CSS Prime aspirados e turbinados, a família Firefly da Fiat são os principais que correspondem a carros de uso intenso.

O processo da retífica envolve desmontagem, inspeção detalhada, substituição de peças desgastadas e usinagem de componentes para que fiquem dentro da tolerância especificada pelo fabricante. Quando executado corretamente, devolve ao motor características próximas às originais, melhora a eficiência do combustível, reduz emissões e pode representar um custo mais viável do que a substituição completa do motor.

 

Quando a retífica é necessária?

A necessidade surge quando a manutenção básica (troca de óleo, filtros e ajustes simples) não resolve problemas como:

Consumo excessivo de óleo ou combustível;

Ruídos metálicos anormais;

Vazamento de óleo no escapamento;

Emissão de fumaça azulada;

Presença de óleo nas velas;

Perda de potência ou baixa compressão;

Superaquecimento frequente;

Desgaste severo de cilindros, pistões ou mancais.

 

O papel da usinagem

A usinagem de motores é etapa central da retífica e consiste na correção de superfícies, dimensões e acabamentos de peças críticas como cilindros, virabrequim, cabeçote e sedes de válvula.

São utilizadas máquinas especializadas, como:

 

Tornos

Um torno é uma máquina-ferramenta usada para dar forma a peças, especialmente materiais cilíndricos ou cônicos, através da rotação da peça contra uma ferramenta de corte. É uma máquina essencial em processos de usinagem, permitindo a criação de peças com formas precisas e acabamento refinado, tanto em ambientes industriais quanto artesanais.

 

Retificadoras

A retificadora é uma máquina empregada na usinagem de peças para dar às suas superfícies uma exatidão maior e um melhor acabamento do que os conseguidos em máquinas convencionais. Os materiais ou peças geralmente precisam ser submetidos a tratamento térmico de têmpera para serem retificados.

Plainas

Utilizadas para corrigir empenamentos e irregularidades na superfície do cabeçote do motor, garantindo uma vedação perfeita com a junta do cabeçote. Este processo, também chamado de retífica de cabeçote, é essencial para evitar vazamentos de óleo ou água e garantir o bom funcionamento do motor.

 

Mandrilhadoras

A mandrilhadora é uma máquina-ferramenta utilizada para a usinagem de peças de grande porte e complexidade. Seu funcionamento baseia-se no uso de uma ferramenta de corte rotativa que é movida por um motor, enquanto a peça é fixada em uma mesa que pode ser movimentada em três eixos.

Brunidoras

Os brunidores são ferramentas que, agrupadas com pedras abrasivas, tem a função de retirar material interno de um furo. Assim, quando cortam, acabam apresentando numerosos pontos de contato à peça, dissipando calor na ferramenta e minimizando qualquer risco de mau acabamento interno dos cilindros para vedação dos anéis de pistão.

 

Além disso, o processo inclui balanceamento de componentes e ajustes finos para evitar vibrações e garantir longevidade ao motor.

 

Etapas do processo de retífica

 

Desmontagem: retirada do motor do veículo, desmontagem peça a peça e catalogação.

Limpeza: remoção completa de óleo, graxa e resíduos de combustão.

Inspeção: avaliação visual e com instrumentos de medição para detectar desgastes, trincas e empenamentos.

Usinagem e substituição de peças: correção de superfícies e substituição de componentes condenados.

Montagem: seguindo especificações do fabricante, com lubrificação, juntas e retentores novos.

Calibração e testes: ajustes de folgas, sincronismo e testes de compressão; ensaio em dinamômetro quando disponível.

Acabamento e pintura: proteção contra corrosão e melhoria estética.

Motores 3 cilindros e downsizing: podem ser retificados?

Os motores modernos de 3 cilindros, típicos da filosofia downsizing (redução de peso e tamanho), são mais compactos, leves, além de entregarem potência igual ou superior a motores maiores, graças a recursos como injeção direta, turbo e comando variável.

Mas quando o assunto é retífica, essa configuração traz alguns desafios como pouca margem de usinagem no bloco e cabeçote, limitando o número de retíficas possíveis; Paredes de cilindro finas e sensíveis a erros de usinagem; Folgas internas muito justas, que pedem medições precisas; Peças complexas e caras, muitas vezes
importadas.

 

E qual a opinião dos profissionais da área de retífica? 

A Revista O Mecânico entrou em campo fazendo contato com dois profissionais que atuam na área de retifica para saber a opinião de cada um deles. Para Valter Alves da Silva, da Retífica Ello Valter, localizada em Nova Petrópolis, bairro de São Bernardo do Campo (SP), os motores 3 cilindros, assim como os demais, permitem a usinagem normalmente. Porém, existem detalhes específicos que fazem toda a diferença para garantir o bom funcionamento e a durabilidade após o serviço.

De acordo com o profissional, esses motores chegam em sua oficina com grandes desgastes. “A maioria chega com folga excessiva e desgaste nos cilindros, além de danos em áreas que precisam de folgas muito precisas para o funcionamento correto. É comum também encontrarmos empeno acentuado entre cabeçote e bloco devido a superaquecimento. Na maioria dos casos, os problemas são consequência de mau uso por parte do proprietário”, informa.

Valter acrescenta com os pontos que são verificados nesses motores. “Geralmente, observamos o desgaste na região do comando de válvulas, cilindros, virabrequim e empeno da superfície do cabeçote e do bloco causado por aquecimento”.

Sobre as possíveis causas, o profissional cita que o uso inadequado e período de troca não respeitados, são o maior problema nesses motores. “Analisando motores em boas condições, percebemos que muitos três cilindros já saem de fábrica com folgas próximas ao limite máximo permitido pelo fabricante. Isso significa que o motor não vem com todo o potencial de vida útil possível. Assim, somado a trocas de óleo fora do prazo ou uso de lubrificantes inadequados, o desgaste dos componentes tende a ocorrer mais cedo”.

O que é feito quando os motores chegam nesse estado? Valter respondeu. “Na usinagem, geralmente fazemos a retífica completa do motor: cabeçote, bloco, virabrequim, conferência das bielas, entre outros serviços. Também avaliamos a necessidade de troca de componentes como polia do cabeçote, polia do virabrequim, parafusos de biela, bomba de óleo, bomba d’água, parafusos de cabeçote, entre outros”.

Valter informa que além de seguir todas as especificações técnicas do fabricante, é realizado ajustes para reduzir folgas radiais e axiais, aumentando a durabilidade do conjunto e melhorando a lubrificação entre as partes.

De acordo com o profissional, número de motores 3 cilindros recebidos em sua oficina variam um pouco, mas tem uma boa média de serviço. “O volume varia conforme o mês. Em alguns períodos recebemos de 4 a 5 unidades, enquanto em outros chegam até 7 motores três cilindros para retífica”, conclui.

Já para André Marcelo Lira, da Racing Box oficina e retifica de cabeçotes, localizada no bairro Jardim Três Marias, na capital paulista, é possível realizar a retifica desses motores exceto aqueles que no cilindro tenham tratamento nas camisas que impeçam a colocação de pistões sob medida. Mas o restante dos componentes como virabrequim, cabeçote, são viáveis o recondicionamento.

Em sua oficina, o profissional comenta que os cabeçotes chegam com desgaste elevado. “Cabeçotes, normalmente com muita carbonização e bem empenados. Modelos Renault normalmente comem o mancal axial. Já a linha GM, normalmente chegam com a polia variável entupida pela correia ou óleo velho”.

Olhando para o desgaste na parte superior do motor, André comenta os maiores pontos de desgaste. “O que sempre tem aparecido são problemas na parte superior do motor, no cabeçote. Sedes de válvulas danificadas, por ter pouca carga de mola para gerar a potência correta, o que acaba estragando as sedes. As válvulas trincam, muitas vezes por um combustível ruim e pela alta taxa de compressão que esses motores apresentam”.

Para o profissional, os desgastes e problemas ocorrem por causa da falta de manutenção preventiva. “Muitas vezes, a causa é a falta de manutenção periódica, como data de troca de óleo e a qualidade do lubrificante. Além da péssima qualidade dos combustíveis”.

André recebe em sua retífica uma média de um cabeçote de motor 3 cilindros por mês, mas informa que esse número pode oscilar. “Já teve meses em que recebi 4 aqui na oficina. O que mais aparece é da linha Renault, os Volkswagen são os que menos dão problema”, conclui o profissional.

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